26 de janeiro de 2022

TEMPOS DE CÓLERA. Trump e seus papagaios derramam diariamente o que há de pior no ser humano. Dantes discutiam-se as diferenças de forma civilizada; agora descarrega-se ódio no outro à primeira oportunidade — e quando as coisas acalmam, ninguém pede desculpa a ninguém. As redes sociais potenciam, e muito, estes comportamentos, embora o ódio que prolifera nas redes já existisse. Destilava-se em doses moderadas, porque naquele tempo havia o que hoje escasseia: decência e respeito pelo outro. Não sei até onde isto vai, que o fundo é quase sempre mais fundo do que se pensa. Mas a continuarmos por aqui, não tarda que necessitemos de reaprender as regras básicas da convivência humana para nos diferenciarmos, pelas melhores razões, dos animais ditos irracionais.

12 de janeiro de 2022


COMEÇAR BEM O ANO.
Começo o ano a reler A Estrada Para Oxiana, do inglês Robert Byron, depois de ter lido a versão original há uma década. Depressa descubro que já não me lembro do que li, pelo que é como se fosse a primeira vez. Já tudo se disse sobre o livro. Acrescentarei apenas, e apesar de ainda ir a meio, que é um dos cinco melhores livros de viagens que já li. E que nos restantes quatro que figuram no meu panteão de livros de viagens só um deles, A Sombra da Rota da Seda, do britânico Colin Thubron, é considerado como tal. Aproveito para dizer que os livros de viagens de autores contemporâneos são, regra geral, penosos de ler.

6 de janeiro de 2022

NÃO ESQUECER. Trump falhou, por pouco, faz hoje um ano, o golpe de Estado de 6 Janeiro de 2021, depois de ter perdido a eleição de 2020 e insinuado, durante a campanha, que só perderia se houvesse fraude. Como se demonstrou, o processo decorreu com normalidade, e o adversário ganhou com uma diferença de sete milhões de votos. Mas Trump não se conformou, e ainda hoje insiste em vender aos fanáticos a teoria de que foi roubado, porque os fanáticos só querem ouvir o que lhes convém. Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, prepara-se para fazer o mesmo se não for reeleito, e até já avisou que as presidenciais deste ano poderão ser adiadas caso suspeite que não há condições para as fazer «livremente» (leia-se caso suspeite que as possa perder). Se houver eleições e for derrotado, não vão ser bonitas as manobras para se manter no poder — e, por arrasto, ficar impune dos crimes de que é acusado, ele e os filhos, que são muitos e feios. Resta esperar que o famoso «sistema», que ambos odeiam e nos EUA tremeu mas não caiu, seja capaz de o tirar do Planalto caso perca e não saia pelo próprio pé.