6 de setembro de 2003
A última crónica de Eduardo Cintra Torres, no "Público" de segunda-feira, merecia um caixilho e ser afixada na redacção da TVI. E não só na redacção da TVI, que não destoaria nas redacções das demais televisões. É tanta a mentira, incompetência, manipulação, falta de rigor, incerteza dos «factos» relatados e ignorância que chega a suspeitar-se que houve exagero. Só que não houve exagero. Em boa verdade, a constatação do crítico do "Público" nem sequer foi uma surpresa, embora o retrato dê que pensar. Sobretudo porque, em maior ou menor grau, aquilo que ele denuncia é o que se pratica um pouco por todo o lado, inclusive na imprensa de referência. E não só em Portugal, como se imagina. A ligeireza e a falta de rigor com que se tratam as notícias hoje em dia são um mal geral. Porque a informação se tornou um grande negócio e está nas mãos de grandes empresas, tantas vezes estranhas ao mundo da média e que não têm quaisquer problemas em aniquilar o que custou anos de dedicação e esforços. Além de não hesitarem em usar a média, às vezes de forma obscena, para fins estranhos à sua natureza. Não será por acaso que três quartos dos ingleses não acreditam na imprensa escrita do seu país, segundo a revista "Spectator". Não será por acaso que 60 por cento dos franceses acha que os jornalistas não são independentes, segundo um relatório do Banco Mundial. Não será por acaso que a circulação da imprensa nos Estados Unidos na última década tem vindo a cair à razão de quase um por cento ao ano. Pois é. Estas coisas pagam-se. Pior: a credibilidade e o prestígio, uma vez perdidos, raramente se recuperam.