19 de dezembro de 2003
Parece que o discurso do presidente Chirac — a favor de uma lei que proíbe, nas escolas e noutros estabelecimentos públicos, a utilização da burka e outros símbolos religiosos considerados «ostensivos» — pôs, em França, toda a gente de acordo. Ou melhor: pôs quase toda a gente de acordo, porque os muçulmanos ficaram furiosos. Muito sinceramente, espero e desejo que a coisa resulte. Mas tenho dúvidas, muitas dúvidas. Compreende-se e aplaude-se o combate ao fundamentalismo, seja ele islâmico ou doutra natureza. Mas receio que as medidas que os franceses se preparam para tomar produzam resultados inversos ao que pretendem. Um Estado laico e que se diz de direito não deve proibir que os seus cidadãos manifestem exteriormente a sua religião, quer se goste, quer não. A não ser que essas manifestações de religiosidade ponham em causa os direitos e liberdades dos outros, que parece não ser o caso. Sem dúvida que o assunto é controverso. Por isso mesmo acho que mais vale não legislar que legislar mal.