21 de julho de 2004
«Caminhávamos pelos passadiços arruinados, de mão dada. Uma ligeira brisa fazia esquecer por um momento a fornalha. Eu sentava-me, ela agachava-se, juntava as mãos esguias sob o queixo, eu tirava uma harmónica do bolso e tocava, era a única ocasião em que uma expressão de alegria infantil surgia no seu rosto (mesmo no amor, porque acontecia mesmo assim que o fizéssemos, ela mantinha uma máscara impassível), olhávamos as aves deslizando no céu incandescente, ou então víamos vogar as velas irisadas dessas medusas a que os ingleses chamam "barcos de guerra portugueses", e cujos longos filamentos purpurinos e azuis podem causar a morte. Tomar-nos-iam por loucos, ou por fantasmas. Sentíamo-nos bem, um e outro, imagino, casal caminhando na água profunda e triste, porque o mundo parecia de repente afastado.» (Porto-Sudão, Olivier Rolin)