29 de abril de 2005
Três amigos (ou colegas de trabalho, não sei bem) esperam, em silêncio sepulcral, que lhes sirvam o almoço. Impossível não reparar na cena, pois estão mesmo ao meu lado e o silêncio dura há uma eternidade. Agora, 10 minutos após o almoço, atropelam-se uns aos outros para se fazerem ouvir. Segredo: uma garrafa de tinto Eugénio de Almeida (14 graus) e uma rodada de uísque.
28 de abril de 2005
Certamente que o mau momento do FC Porto não se deve, apenas, ao seu treinador. Mas, à medida que o tempo passa, cada vez se torna mais evidente que também. Agora são os árbitros os culpados dos desastres dos «dragões». Segundo Couceiro, os árbitros estão a actuar de forma condicionada nos jogos dos portistas, há um decréscimo de qualidade na arbitragem desde há duas ou três épocas, falta «equilíbrio emocional» aos árbitros portugueses. Tudo razões para o FC Porto se sentir prejudicado, e que explicam a má performance dos «dragões». Quem já não viu este filme? Porque se insiste em atribuir a terceiros o que não é culpa de terceiros?
27 de abril de 2005
Não há cão nem gato que não fale bem de Sá Carneiro. Da esquerda à direita, passando pelo centro e por quem não se interessa por política, toda a gente acha que Sá Carneiro foi um excelente político, uma belíssima pessoa. Ora, perante tanta unanimidade, apetece-me perguntar: teriam as pessoas a mesma opinião de Sá Carneiro caso ele fosse vivo? Com certeza que não. Assim sendo, pode dizer-se que a principal virtude de Sá Carneiro é estar morto?
25 de abril de 2005
«Minha primeira transa foi num Volkswagen. Começou no banco de trás. Quer dizer, meu namorado foi pró banco de trás e eu fiquei metade no banco da frente e metade no banco de trás, sabe como é? Aí ele sugeriu que eu botasse uma perna pela janela e dobrasse a outra por baixo do banco da frente, no lado direito, enquanto ele tentava vir por cima do banco do lado esquerdo, aí eu comecei a dizer ‘Ai, ai’ e ele disse ‘Mas eu ainda não fiz nada’ e eu disse ‘Não, é que meu ombro ficou preso em baixo do freio de mão’. Aí ele disse pra mim recolher a perna que estava pra fora, e eu recolhi mas fiquei com o joelho preso no volante e apoiei o cotovelo onde não devia e o meu namorado, coitado, deu um grito de dor. Aí eu pulei pra trás e bati com a cabeça no pára-brisa e ele saiu correndo pra chamar uma ambulância. Aí veio a ambulância e ele foi comigo para o hospital na parte de trás e aí, sim, deu pra transar legal porque tinha bastante espaço e até uma cama.» Diva Gar, oceanógrafa, citada por Luís Fernando Veríssimo no último Expresso.
22 de abril de 2005
Luís Figo era o maior, lembram-se? Mas agora, que estará em final de carreira — e correspondente declínio de forma —, já começa a ser um objecto descartável. Leram bem: um objecto, pois é exactamente como objectos que os profissionais da bola são tratados. Quando são bons e estão no auge da forma, se fosse possível canonizá-los não se hesitaria um segundo. Mas quando não estão em forma ou entram em declínio, os comentários que se fazem são sempre a descer — e escusado será dizer que são feitos pelos mesmos que, ontem, não hesitariam em canonizá-los. Bem sei que, até ver, nada disto sucedeu no caso de Luís Figo. Mas não perde pela demora.
21 de abril de 2005
Ciclicamente, o presidente do Sporting vem a terreiro berrar contra «o sistema». O famoso «sistema» de que toda a gente fala mas ninguém sabe o que é — ou, se sabe, não explica, a começar por Dias da Cunha. E que diz o presidente do Sporting sobre tão interessante matéria? Que a transferência do jogo Estoril-Benfica para o Algarve — alegadamente por falta de condições de segurança no Estoril para receber um encontro de grande importância e para garantir maior receita de bilheteira — configura uma situação de «promiscuidade de interesses». Mas «promiscuidade de interesses» como? Infelizmente, o presidente do Sporting não entrou em detalhes. Para não variar, Dias da Cunha abriu a boca para falar do «sistema» e não disse uma palavra sobre o «sistema». Nem sobre o «sistema», nem sobre coisa nenhuma.
Eu, sobre a polémica que corre no Mão Invisível, tenho a dizer que não me importaria nada, mas mesmo nada, de receber uns milhares de contos (está bem, umas centenas) para escrever um livrito. Digo mais: com uma inspiração assim, até me julgo capaz de escrever uma obra-prima.
19 de abril de 2005
Não sei se o cardeal Joseph Ratzinger foi a melhor escolha da Igreja Católica, como não saberia se a escolha tivesse sido outra. O que eu sei é que ficou demonstrado que quem entra para o Conclave na qualidade de candidato a Papa corre o risco de ser eleito Papa, o que contraria o que parecia um dogma. Também não percebo as razões que levaram representantes da Igreja Católica a apressarem-se a dizer que Bento XVI é o Papa da transição. Transição para quê?
15 de abril de 2005
Contrariando os rumores que correm por aí, Pinto da Costa não se separou da dona Carolina. Quem o garante é o Correio da Manhã (aqui e aqui) e a própria. «Estamos mais apaixonados do que nunca», disse ela sobre si e o presidente do Porto. Espera-se, agora, que a Alta Autoridade não se oponha com um parecer «não negativo».
14 de abril de 2005
12 de abril de 2005
11 de abril de 2005
É provável que João Paulo II tenha sido o que se disse ter sido e não tenha sido o que se disse não ter sido. Mas eu confesso que já estava fartinho de artigos de fundo sobre o Papa, apesar de não ter lido um décimo do que foi publicado. Então essa de que João Paulo II foi o Papa que melhor soube usar a TV, como se há 25 anos a TV fosse a mesma coisa e tivesse o poder que hoje tem, foi de mais. Não, não tenho qualquer problema com João Paulo II. Para dizer a verdade, nem opinião tenho sobre ele. Mas se a coisa durasse mais uma semana, ainda me convertia ao Bloco de Esquerda.
7 de abril de 2005
6 de abril de 2005
Aparentemente, o presidente do Chelsea «calou» Mourinho com uma pipa de massa. Aguarda-se, agora, a crónica dos 4-2 ao Bayern. Pelo maradona, é claro.
Os entusiastas das quotas (ou da diversidade por decreto) deviam ler este artigo. «Since anyone can write a Weblog, why is the blogosphere dominated by white males?», pode ler-se no subtítulo. E, já agora, também este. Ambos recomendados pelo Arts & Letters Daily.
«Há muitos anos que o cérebro de [Terri] Schiavo não tinha qualquer actividade», garante Eduardo Cintra Torres (link não disponível). Como já aqui disse, não estou seguro que assim seja. Este artigo, por exemplo, levanta algumas dúvidas.
4 de abril de 2005
E agora, para desanuviar, um extracto das aventuras de Teodorico Raposo em Jerusalém:
Suspirei, amoroso e moído; e abria os lençóis bocejando — quando distintamente, através do tabique fino, senti um ruído de água despejada numa banheira. Escutei, alvoroçado; e logo nesse silêncio negro e magoado que sempre envolve Jerusalém, me chegou, perceptível, o som leve de uma esponja arremessada na água. Corri, colei a face contra o papel de ramagens azuis. Passos brandos e nus pisavam a esteira que recobria o ladrilho de tijolo; e a água rumorejou, como agitada por um doce braço despido que lhe experimentava o calor. Então, abrasado, fui ouvindo todos os rumores íntimos de um longo, lento, lânguido banho; o espremer da esponja; o fofo esfregar da mão cheia de espuma de sabão; o suspiro lasso e consolado do corpo que se estira sob a carícia da água tépida, tocada de uma gota de perfume... A testa, túmida de sangue, latejava-me; e percorria desesperadamente o tabique, procurando um buraco, uma fenda. Tentei verrumá-lo com a tesoura; as pontas finas quebraram-se na espessura da caliça... Outra vez a água cantou, escoando da esponja; e eu, tremendo todo, julgava ver as gotas vagarosas a escorrer entre o rego desses seios duros e brancos que faziam estalar o vestido de sarja...
Não resisti; descalço, em ceroulas, saí ao corredor adormecido; e cravei à fechadura da sua porta um olho tão esbugalhado, tão ardente — que quase receava feri-la com a devorante chama do seu raio sanguíneo... Enxerguei num círculo de claridade uma toalha caída na esteira, um roupão vermelho, uma nesga do alvo cortinado do seu leito. E assim agachado, com bagas de suor no pescoço, esperava que ela atravessasse, nua e esplêndida, nesse disco escasso de luz, quando senti de repente, por trás, uma porta ranger, um clarão banhar a parede. Era o barbaças, em mangas de camisa, com o seu castiçal na mão! E eu, misérrimo Raposo, não podia escapar. De um lado estava ele, enorme. Do outro, o topo do corredor, maciço.
Vagarosamente, calado, com método, o Hércules pousou a vela no chão, ergueu a sua rude bota de duas solas, e desmantelou-me as ilhargas... Eu rugi: "bruto!" Ele ciciou: "silêncio!" E outra vez, tendo-me ali acercado contra o muro, a sua bota bestial e de bronze me malhou tremendamente quadris, nádegas, canelas, a minha carne toda, bem cuidada e preciosa! Depois, tranquilamente, apanhou o seu castiçal. Então eu, lívido, em ceroulas, disse-lhe com imensa dignidade:
— Sabe o que lhe vale, seu bife? É estarmos aqui ao pé do túmulo do Senhor e eu não querer dar escândalos por causa da minha tia... Mas se estivéssemos em Lisboa, fora de portas, num sítio que eu cá sei, comia-lhe os fígados! Nem você sabe de que se livrou. Vá com esta; comia-lhe os fígados!
E muito digno, coxeando, voltei ao quarto a fazer pacientes fricções de arnica.
1 de abril de 2005
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