7 de outubro de 2005
Não faço ideia se George W. Bush alguma vez disse que a invasão do Afeganistão e do Iraque foi decidida por ordem divina, como afirmou o ministro palestiniano da Informação. Como as supostas declarações de Bush sobre esta matéria terão sido feitas em privado, só quem privou com ele é que sabe. Isto é o que me parece dizer o bom-senso, pois estamos a falar da palavra de uns contra a palavra de outros. Também salta à vista outro pequeno detalhe: quem decidiu a invasão do Afeganistão e do Iraque não foi George W. Bush, que não tem poderes para tal. A invasão do Afeganistão e do Iraque foi decidida pelo Congresso, com os votos dos Republicanos e dos Democratas. É claro que tudo isto tem pouca importância para a malta do costume. Importante é que o que foi dito pelo ministro palestiniano é contra George W. Bush, e tudo o que seja contra George W. Bush é bom — e só pode ser verdade. E com certeza que não diriam o mesmo caso fosse o contrário. Se fosse o presidente americano a fazer uma afirmação destas sobre o ministro palestiniano, não teriam dúvidas de que Bush estava a mentir. Mas o mais confrangedor é verificar que alguns dos que não têm dúvidas neste caso do diz-que-disse são jornalistas, quando deveriam ser os primeiros a agir com prudência face à escassez de informação sobre o assunto. Sim, eu sei que está na moda dizer-se que não há jornalistas imparciais, a objectividade jornalística é impossível de alcançar, etcetera e tal. Assim sendo, vale tudo. Até fazer passar por factos indesmentíveis o que são meras suposições.