22 de setembro de 2006
Ainda muito jovem, senti que a terra existia e quis conhecer-lhe as paragens remotas. Não fui feita para rodopiar num carrossel, com palas de seda nos olhos. Não compus um ideal: lancei-me à descoberta. Bem sei que esta maneira de viver é perigosa, mas o momento do perigo é também o momento da esperança. De resto, compenetrei-me da ideia de que nunca podemos cair abaixo de nós mesmos. Quando o meu coração sofria, começava a viver. Muitas vezes, nos caminhos da minha vida errante, me perguntei para onde estava a ir e acabei por compreender, entre a gente do povo e os nómadas, que estava a subir até às nascentes da vida, a realizar uma viagem às profundezas da humanidade. Ao contrário de muitos psicólogos subtis, não descobri nenhum sentimento novo, mas recapitulei sensações intensas; através de toda a mesquinhez dos meus acasos, a curva deliberada da minha existência ia-se desenhando ao largo. Isabelle Eberhardt, Escritos no Deserto