29 de agosto de 2008

PERTURBANTE. Que alguém tenham pregado um sapo numa cruz, supõe-se que numa alusão à crucificação de Cristo, não me aquece, nem me arrefece. Que me venham jurar que aquilo é «arte moderna» ou «conceptual», não me incomoda. Que o Papa venha dizer que estamos perante uma blasfémia, é-me indiferente. Que o Governo de Berlusconi considere o gesto inaceitável, está no seu direito. Que o governador lá do sítio tenha acabado no hospital após uma greve de fome em sinal de protesto, problema dele. Mas já me perturbaria que os responsáveis do museu onde a «obra» se encontra cedessem às pressões (do Papa, dos governos local ou nacional, do merceeiro do sítio) para retirar a obra, um gesto hoje em dia muito em voga e cuja recente não edição de um livro pela Random House, por razões de segurança, é, apenas, o último exemplo conhecido. Aliás, perturba saber que o acto de expor o boneco em causa seria impensável caso ofendesse, por exemplo, o Islão. Sim, porque o episódio dinamarquês das caricaturas causou, naturalmente, consequências, péssimas consequências. E isso é que é perturbante.