6 de janeiro de 2009
RIDÍCULO. Vítor Malheiros comparou a invasão da Faixa de Gaza pela tropa israelita a uma hipotética invasão, pelas polícias portuguesas, do Bairro da Cova da Burra. A pretexto de que o local se transformou num covil de meliantes, e que os meliantes «saíam de vez em quando para atacar e roubar os pacatos cidadãos dos bairros limítrofes» em operações que, às vezes, resultavam em mortes, o jornalista do Público, procurando traçar um paralelismo entre a Cova da Burra (belo nome) e a Faixa de Gaza, disparou: seria legítimo que as forças policiais lançassem uma gigantesca rusga e que a operação se saldasse em «500 mortos, entre os quais várias famílias inteiras e dezenas de crianças»? Temos, pois, que Vítor Malheiros é ingénuo, não conhece a natureza do conflito israelo-palestiniano, pretende tomar-nos por parvos, ou está a ser intelectualmente desonesto. Admito, como hipótese meramente académica, que o jornalista colocou a questão nestes termos de forma a simplificar e a fazer com que todos percebam o que está em causa, mas o que está em causa não é, evidentemente, tão simples — nem o exemplo da Cova da Burra serve, obviamente, de comparação. O Hamas é um bando de malfeitores que sai «de vez em quando para atacar e roubar os pacatos cidadãos dos bairros limítrofes»? O Hamas, sr. Malheiros, não é, de modo algum, o que nos quer fazer crer. O Hamas é uma organização que pretende varrer Israel do mapa, e foi o próprio Hamas quem o disse. Isto devia chegar e sobrar para não se meter a comparar o que não é comparável, e a poupar-nos a um exercício, no mínimo, ridículo.