28 de julho de 2009

O TROMPETE. Francisco Duarte Azevedo, cônsul-geral de Portugal em Newark já em final de missão, prepara-se para publicar O Trompete de Miles Davis, um belo romance ainda em fase de revisão — e que eu gostaria de ter escrito. Eis um excerto:

Falava português e não era portuguesa (Brunette, obviamente), falava cantando sem cantar, arrastando as palavras, abrindo vogais sem ser arrastadeira. Presa numa gaiola nem dourada nem de ferro, girava o corpo em tubo da noite, rendia que se fartava, mas não era ave que pudesse piar em seu próprio ninho. O homem dos ovos contava tudo direitinho. Cada poedeira tinha de render tanto. Impôs tabela fixa. Podiam fazer festa no quintal, não tinha problema, mas regressavam à capoeira para dormir. Brunette estava nesse entretém de ave. Se piasse fora, quebravam-lhe o bico. Consta que depois de adoptada como filha...
— Passou à condição de amante, disse eu.

— Como sabes?

— Não foste tu que disseste existirem pássaros que piam?


Não vou alongar-me em considerações sobre o livro (que já tive o privilégio de ler), muito menos entrar em detalhes. Direi, apenas, que é uma história cujo principal personagem é um detective mais talhado para o jazz e para os livros que para os mistérios do crime, e que na hora do aperto se revela, imaginem, um cagarolas. Arrisco, já agora, um palpite: ou muito me engano, ou o livro vai dar que falar.