17 de março de 2010
QUEIMAR LIVROS. Pacheco Pereira dizia, há pouco, sentir-se incomodado pelo facto de entidades públicas ou privadas destruírem livros a pretexto de não terem espaço para os armazenar, defendendo que em casos desses deviam ser oferecidos a instituições ou a quem deles precisasse. Há dias, um professor escreveu, no Público, mais ou menos o seguinte: é escandaloso que se proceda à destruição de dezenas de milhares de livros que podiam ser oferecidos a bibliotecas, escolas, universidades, centros culturais ou prisões. Mais recentemente, Vasco Graça Moura defendeu que os livros «poderiam com vantagem ser distribuídos no País, ou nos países de língua portuguesa, a título gratuito, em escolas, hospitais, prisões, lares da terceira idade, bibliotecas populares, clubes desportivos, etc.». Acontece que a aparente evidência não passa de uma miragem. Conheço casos em que se ofereceram dezenas de milhares livros que ainda hoje, anos passados, continuam encaixotados e armazenados sabe-se lá onde, por falta de interesse de quem os recebeu e de quem se interesse em os ler. Tirada a fotografia da praxe, repetidos os lugares-comuns nos discursos de ocasião, os livros são logo despachados para um local onde não atrapalhem, e acabarão, a prazo, por se tornar um empecilho, o mesmo empecilho que os levou até ali. Bem sei que destruir livros faz lembrar práticas abomináveis, e daí as reacções indignadas. Mas não é dando livros que se passa a ler mais, por mais triste que seja reconhecê-lo, e os exemplos que dou não são, infelizmente, casos isolados. Hoje em dia só não lê quem não quer, e excepções são isso mesmo.