4 de novembro de 2011
ESTOU A LER (4). Um dos livros que ultimamente mais gozo me deu ler foi Trieste, de Jan Morris, por razões que não sei — nem quero — explicar. Hoje, lendo Diário Volúvel deparo com uma passagem em que Vila-Matas cita o escritor espanhol J. Á. González Sainz que numa entrevista terá respondido quando lhe perguntaram por que vivia em Trieste: «Isso queria eu saber. E esse não saber é uma boa razão. Sinto-me estranho aqui, estrangeiro, distante, e creio que sentir-se estrangeiro no mundo é uma das condições da escrita, habitar o mundo de uma forma um pouco enviesada. Quando regresso de comboio, já de noite, das minhas aulas em Veneza e vejo no final da viagem as luzes de Trieste ali ao fundo, como que garroteadas nas costas pela escuridão das montanhas do Carso, com a Eslovénia atrás e à direita a linha de costa de Istria, e digo para comigo “a tua casa fica ali”, “é ali que vives”, gera-se-me uma sensação de estranheza, de não-pertença a não ser de passagem, com a qual me sinto bem e que creio ser fundamental para essa forma de viver que é escrever.» Não sou escritor, nunca vivi em Trieste, de Trieste apenas sei o que li de Jan Morris, mas sinto o que ele sentia. Por que será?