15 de dezembro de 2011
A JUSTIÇA QUE TEMOS (2). A ministra da Justiça pode ser incompetente, pode ter um problema com os advogados, pode estar de má-fé e tudo o mais que quiserem. Mas quem a vê acusar mais de um milhar de advogados de burlarem o Estado em meio milhão de euros sem factos que o comprovem? Os advogados terão razões de queixa da ministra, mas dizer que Paula Teixeira da Cruz está a promover uma «campanha difamatória» contra eles e pedir a sua demissão por a ministra se ter limitado a citar uma auditoria que detectou irregularidades praticadas por mais de um milhar de advogados é o que se chama uma fuga para a frente. Não seria normal os advogados pedirem à ministra (ou à Procuradoria-Geral da República, visto que os nomes terão sido para lá enviados) que divulgasse os nomes dos prevaricadores, para que os advogados assim pudessem acabar com as suspeitas que inevitavelmente pendem sobre todos e defenderem o seu bom nome? Ou será que não há advogados desonestos? Bem sei que compete à ministra (ou aos tribunais) provar as acusações e não aos suspeitos demonstrar que estão inocentes, mas também julgo saber que só um demente se atreveria a fazer acusações deste quilate sem factos que o demonstrem. Os suspeitos de irregularidades acham que estão inocentes? Resolvem o caso nos tribunais. Exigir o afastamento da ministra após este episódio é uma manobra, no mínimo, suspeita, e só dá razão a quem supostamente a não tem.