31 de janeiro de 2012
INOCENTE PORQUE SIM. Mário Soares escreveu, a propósito do livro Inocente para além de qualquer dúvida, que Carlos Cruz tem vindo «a demonstrar a sua inocência». Ora, de que modo? Publicando livros onde não se espera que diga outra coisa? Publicando livros onde apenas se lê a sua versão dos factos? Publicando livros onde se apresenta como juiz em causa própria? Já disse e repeti que não sei se Cruz é culpado dos crimes de que foi acusado — e, já agora, condenado, apesar do recurso ainda correr no Tribunal da Relação de Lisboa. Mas não será evidente que os livros que ele vem publicando não demonstram coisa alguma? Muitos acham que Cruz está inocente porque se recusam a acreditar que ele foi capaz de cometer os crimes por que foi condenado, porque acham que Cruz é uma pessoa decente, porque são amigos dele e os amigos são para as ocasiões. Resumindo, acreditam na sua inocência porque sim. Já o tribunal considerou-o culpado com base em evidências mais sólidas que o porque sim. Claro que o tribunal se pode ter enganado, mas a quantidade de material que lhe passou pelas mãos e o ror de gente que o processo envolveu torna difícil acreditar na existência de um erro, muito menos numa conspiração. Haverá, quando muito, pequenos erros processuais, mas custa-me a crer que o tribunal tenha errado no essencial. Nada contra Carlos Cruz, mas acredito mais facilmente no tribunal que na versão dele. Pela simples razão de que a versão do tribunal é mais consistente, e presumo que o tribunal não tinha, à partida, interesse que o desfecho do caso fosse numa determinada direcção, como vi insinuado mas nunca fundamentado. Já a versão de Carlos Cruz é a versão de parte interessada. Por mais objectiva e distanciada que se reclame.