9 de outubro de 2013
QUANDO OS COBARDES DÃO LIÇÕES DE MORAL. Três conclusões a tirar do artigo assinado por Álvaro Domingos no Jornal de Angola de sábado passado: é um crime grave que a justiça portuguesa investigue dois altos representantes do Estado angolano, entre eles o vice-Presidente da República e o Procurador-Geral da República, segundo dizem por suspeitas de irregularidades cometidas em Portugal; a aparente violação do segredo de justiça, tornando público o teor das investigações, feriu «a honra e o bom nome de duas altas figuras do Estado Angolano»; existem, em Portugal, órgãos de informação onde «jornalistas obedientes aos donos fazem o papel aviltante de juízes de um Santo Ofício», segundo ele graças a «uma relação espúria e aviltante entre o Ministério Público e uma comunicação social que actua na lógica das associações de malfeitores». Tiradas as conclusões, três comentários: ao contrário do que o articulista sugere, nada impede que as individualidades citadas sejam investigadas pela justiça portuguesa caso a dita entenda existirem indícios de práticas irregulares cometidas em território português, e até ver não foram acusados de nada; é, de facto, um crime a violação do segredo de justiça, mas toda a gente percebeu que a violação do dito não é, para o sr. Domingos, o verdadeiro problema, sobre o qual preferiu não se pronunciar; finalmente, não custa acreditar que haja, em Portugal, «jornalistas obedientes aos donos», prontos a fazer «o papel aviltante de juízes de um Santo Ofício», mas um sujeito que se esconde atrás de um nome fictício (Álvaro Domingos é um dos vários pseudónimos usados por um cobardolas que todos sabem quem é) e escreve para a trombeta do regime não tem, obviamente, um pingo de autoridade para dar lições de más práticas jornalísticas. Termino com uma pergunta: o que pensará ele e o Jornal de Angola da reportagem da Forbes sobre Isabel dos Santos (original aqui), que a revista acusa de tudo e mais alguma coisa? Fui pesquisar e não vi que o sr. Domingos tivesse escrito uma linha sobre tão melindroso assunto, nem sequer para defender a filha do Presidente — e o Jornal de Angola não só ignorou o episódio como ainda a elogiou por interpostas pessoas. Será preciso dizer mais alguma coisa? Álvaro Domingos esquece-se que o jornal em que escreve pode ser lido em qualquer parte do mundo, e que o resto do mundo não tem, como os angolanos, motivos para recear o Presidente Eduardo dos Santos. Ao contrário dos domingos desta vida, que se escondem atrás de quem são para lamber as botas a quem lhes dá de comer.