4 de novembro de 2013

SNOWDEN E A DESCOBERTA DA PÓLVORA. O assunto é demasiado complexo, mas há um princípio simples que convém ter em conta quando falamos de escutas: se os EUA não são espiados por outros países, é porque os outros países não têm capacidade para tal. Como é evidente, toda a gente espia toda a gente, todos os meios são válidos, tudo geralmente ilegal. Numa coisa o caso Snowden foi útil: vai-se demonstrando que a generalidade dos países espia os seus próprios cidadãos, incluindo «insuspeitos» como a Inglaterra, a Alemanha e a França, e os líderes da União Europeia até já admitem em privado que os seus próprios serviços de informação poderão estar envolvidos em práticas semelhantes. Só se espantará que países vigiem outros países quem vive noutro planeta, pelo que o caso Snowden é, até ver, uma espécie de descoberta da pólvora. Como toda a gente, tenho dúvidas acerca das escutas que o poder americano estará a fazer aos seus próprios cidadãos, mesmo autorizadas pelo Congresso, embora não me custe acreditar que graças a elas se tenham evitado males maiores. Mas também não sou, sobre tão delicada matéria, adepto do «sim» ou do «não». Seguramente que nalguns casos devem ser adoptadas, seguramente que noutros não. O problema é saber quando deve haver escutas, e quando não deve — e quando o resultado das escutas cai nas mãos erradas, como agora sucedeu com o caso Snowden. Ironicamente, as revelações do sujeito, que no melhor dos cenários visavam proteger cidadãos insuspeitos, deixou-os ainda mais vulneráveis — e mais fortes os seus inimigos.