COISAS QUE VOU LENDO (18). «
O Estado (...) é uma máquina pesada, que só gera poder a favor de um partido ou de uma facção quando usada implacavelmente, para além de todas as virtudes e castidades. O equilíbrio orçamental é muito bonito, mas é preciso não hesitar em multiplicar os contratos, parcerias, subsídios, e empregos que suscitam simpatias, fidelidades e contrapartidas; a transparência é excelente, mas é proibido ter escrúpulos quando se trata de explorar a promiscuidade, as facilidades e as trocas de favores para alargar redes de influência e torná-las mais espessas; a separação de poderes é comovedora, mas é impensável vacilar perante a possibilidade de conjugar ministérios, bancos e tribunais na protecção dos amigos e na perseguição dos inimigos. E sendo assim, é natural que a oligarquia, na avaliação de um político, tenda a apreciar a aptidão para este género de exercícios muito acima de todas as outras características, como a integridade pessoal. Sim, este poder corrompe mesmo.» Observador, 28/11/2014