4 de março de 2015

A VIDA SÃO DOIS DIAS E TRÊS MÚSICAS. Depois de há três meses ter visto Keith Jarrett e sus muchachos (Gary Peacock no baixo e Jack DeJohnette na bateria) no New Jersey Performing Arts Center (salvo erro o quarto concerto que vi deles), voltei ontem a vê-lo, no Carnegie Hall, agora a solo, numa dúzia de peças improvisadas que, por ignorância (só me ocorrem lugares-comuns), me abstenho de comentar. Daqui a uma semana será Hiromi, em Princeton, também a solo, depois de memoráveis concertos no Blue Note (com Anthony Jackson no baixo e Simon Phillips na bateria). Isto, já agora, e com o único propósito de causar inveja a eventuais melómanos, de há um ano e pouco ter visto, pela segunda vez, John McLaughlin, também no Blue Note, desta vez com Etienne Mbappé (baixo eléctrico), Gary Husband (teclados e bateria), e Ranjit Barot (bateria). Sim, admito, sem qualquer humildade, que sou um privilegiado. Mas só de me lembrar que em pleno século XXI há gente que morre, de forma atroz, só por gostar de música, apetece-me ver, daqui a três semanas, ainda no Carnegie Hall, o Kronos Quartet, naquele que seria o meu terceiro concerto — o primeiro, salvo erro, com a «nova» violoncelista (Sunny Yang). Nao fossem as contas ao final do mês, até ver mais ameaçadoras que os jihadistas, pecaria de novo, e com todo o gosto. Isto de um dia a gente ir desta para melhor (ou para pior, consoante as opiniões), e depois não ter pecados para contrapor às virtudes, não me agrada nada. Imagino que Deus, a existir (sou agnóstico), não achará graça a quem nunca pecou, muito menos que não tenha sentido de humor e não goste de música. É que, se assim for, declaro-me, desde já, ateu.