22 de maio de 2015
CANÇONETAS E OUTRAS TRETAS. Tal como a generalidade dos portugueses (presumo), e da quase totalidade dos que gostam de música (volto a presumir), estou-me absolutamente nas tintas para o eurofestival das cantigas. Tanto se me dá que a catraia que «nos representa» termine em primeiro ou em último, que o primeiro não me alegra, e o último não me entristece. Dito isto, parece que a «nossa» cantiga, que ontem foi afastada da fase final, é fracota, e está, segundo Simone de Oliveira, longe de representar a música ligeira portuguesa, segundo ela «outra coisa» (leia-se muito melhor). «Há milhares daquelas [cantigas] pela Europa toda», diz Simone, cuja cançoneta a que deu voz no presente certame foi excluída na fase de selecção nacional (se calhar a razão de Simone vem daí). Vulgaridade, na sua opinião, que só pode ser má para as cantigas, e, presumo de novo, para o país. Ora, o que me surpreende é que ainda haja quem leve a sério uma coisa mais que moribunda, que já deu o que tinha a dar pelo menos há três décadas. Quem se lembra de uma única cantiga portuguesa que tenha ido à Eurovisão? (Vá lá, a Tourada e a Desfolhada, cantada pela mesma Simone.) Quem, já agora, se lembra das cantigas que nas últimas décadas ganharam o eurofestival? O tempo, esse grande juiz, encarregou-se de as remeter para onde nunca deveriam ter saído, e nestas coisas o tempo dificilmente se engana. Definitivamente que haverá qualquer coisa que desconheço que justifica o empenho das televisões numa coisa destas. «Aquilo é um grande espetáculo de televisão», garante Simone. Será. Mas eu, honestamente, nem isso consigo ver. Quando o produto é mau, como pode o espectáculo ser bom? É o velho ditado dos ovos e das omeletas.