22 de maio de 2015
O INSULTO COMO ARGUMENTO. Paulo Jorge de Sousa Pinto escreveu no Público o seguinte: há um «bruaá irracional e insensato» por parte de quem se opõe ao Acordo Ortográfico (o chamado AO90), que atribui «a cegueira», «falta de informação», «má-fé», «mero preconceito», «ignorância», «temor», «preguiça», «seguidismo» e «ligeireza». Disse mais: quem se opõe ao Acordo enferma de «arrogância», «nacionalismo básico», «provincianismo serôdio», «estreiteza de vistas», «reacionarismo». Sobre o arrazoado, direi, apenas, duas coisas: há dezenas (repito: dezenas) de argumentos contra o Acordo, e até ver zero (repito: zero) argumentos a favor do Acordo. (Falo de argumentos concretos, não de abstracções.) Para não variar, Sousa Pinto não se pronunciou, em concreto, sobre um só mérito do Acordo. Falou em vagos «desafios à língua portuguesa» que o Acordo irá impedir, num «avanço imparável do inglês» a que o Acordo porá cobro (não se riam), que o Acordo não é mais do que um «aspeto menor de uma convenção». Resumindo, generalidades, e mais generalidades. Sobre os deméritos que os opositores apontam ao Acordo, o sujeito não só não se pronunciou como ainda os insultou. Ainda não foi desta que alguém alinhou dois ou três argumentos dignos desse nome. Por razões cada vez mais óbvias: não os há.