COISAS QUE VOU LENDO (29). «
Num bar, o taberneiro, já que os clientes, bêbados e desempregados, não lhe pagavam, decidiu dobrar o preço da cachaça. Esta era sempre servida e as dívidas assentadas no livro dos calotes. Quando o taberneiro teve de encomendar mais cachaça, foi ao banco pedir dinheiro. O gerente considerou os calotes um ativo e emprestou. Até perguntou se o taberneiro queria mais. Queria, o negócio escorregava tão bem como mata-bicho pela garganta. O gerente foi promovido por incentivar um negócio cujo produto não só dobrara o preço mas triplicara as vendas. Os superiores do banco receberam mais-valias, merecidas por terem gerentes que alavancavam o mercado de capitais... Um dia, porém, suspeitou-se de que os bêbados e desempregados nunca pagariam as dívidas. Faliu o bar. Despediu--se parte do pessoal do banco. E os administradores tiveram de inventar outra coisa para ganhar mais-valias. E eu percebi a crise do subprime.» Ferreira Fernandes, DN de 11/7/2015