22 de março de 2016
PARECE QUE ROUBOU POUCO. Numa coisa estão de acordo os defensores da ideia de que está em marcha, no Brasil, um golpe de Estado comandado pelo juiz Sergio Moro contra o actual Governo: Dilma Rousseff não deveria ter convidado Lula da Silva para o Governo numa altura em que o ex-presidente se arriscava a ser detido de um momento para o outro, e Lula da Silva não deveria ter aceitado o convite da Presidente porque, aceitando, pareceu uma fuga à justiça — e em política, como dizia o outro, o que parece é. Mas o episódio não é coisa pouca, como alguns querem fazer crer. «As suspeitas sobre Lula não são propriamente avassaladoras – ocultação de posse de um apartamento que ele diz ter desistido de comprar e de um banal “sítio” de férias – e francamente ridículas, se pensarmos no habitual para a escala brasileira», escreveu Rui Tavares. Vindo de quem vem, o argumento surpreende. Então Lula da Silva, a confirmarem-se as suspeitas que sobre ele recaem, não roubou o bastante para ter a justiça à perna? Bem sei que, de tão habituados à corrupção, os brasileiros só consideram ladrão o político/governante que rouba acima de determinado montante, e há ainda o peculiar argumento do «rouba, mas faz». Mas que seja um português a dizê-lo, ainda por cima um ex-deputado europeu e dirigente de um partido político, é extraordinário.