1 de maio de 2016
A REALIDADE NÃO INTERESSA PARA NADA. Daniel Oliveira escreveu, no Expresso, que a Uber é «um recuo civilizacional», que pode ser «encontrada (...) na generalidade dos países do terceiro mundo». Dois disparates seguidos, de certo modo surpreendentes. O recuo civilizacional é uma tolice tão óbvia que dispensa comentário. Já sobre os países do terceiro mundo, Daniel Oliveira citou dois exemplos que podem, segundo ele, ser comparados à Uber: o tuk-tuk em Bombaim, e o «chapa» em Moçambique. Como é evidente, são coisas distintas, como tal não podem ser comparadas. Mas eu dou-lhe um exemplo a sério de um país «do terceiro mundo» onde o serviço é cada vez mais utilizado: os Estados Unidos da América, por acaso onde nasceu a Uber. Como deixou claro no texto, o colunista tem um problema com a Uber porque a Uber é uma «empresa multimilionária», e com a agravante de ser americana. Que a empresa se tenha tornado «multimilionária» graças ao número crescente de utilizadores, nos Estados Unidos e fora dele, não lhe interessa para nada. O que lhe interessa é o que ele pensa, a doutrina que vem na cartilha, e quando os factos não encaixam no que ele pensa é porque há um problema com os factos. Nada que já não se tenha visto antes, mas continua a surpreender que gente de todos os quadrantes políticos continue a não ver os factos como tal. Sobretudo quando se é jornalista (julgo ser o caso dele), para quem os factos devem ser intocáveis.