14 de junho de 2017
ISTO NÃO É SOBRE TRUMP. Tirando quem se espera fazê-lo, geralmente pago para isso, ainda não vi quem defendesse o Presidente Trump. Com argumentos dignos desse nome, evidentemente. Atacar os seus adversários, por vezes de forma rasteira e mentirosa, não basta para o defender. Há que dizer que Trump é bom nisto, faz bem aquilo — e fundamentar o que se diz. Confrange, de facto, o deserto argumentativo, que só pode significar que Trump é pior do que se pinta. A maioria dos trumpistas foi desertando para mais amenas paragens. Uns por oportunismo, outros porque se sentirão embaraçados pelo que vêem, outros ainda porque não aguentam tanta mentira (nove por dia, em média, segundo o Washington Post). Depois há os que assobiam para o lado, os que entraram em negação, quem o defende porque sim e outros casos perdidos. Rasgar o acordo sobre o clima, com base em pressupostos que não se percebem, valeu-lhe o desagrado universal. Até a filha e o genro, cuja opinião Trump terá em conta, foram notoriamente contra, deixando o Presidente cada vez mais à mercê dos lunáticos que o rodeiam, das suas próprias obsessões e fantasmas. Agora estamos nas gravações das conversas entre o Presidente e o ex-director do FBI, que Trump ameaça ter mas que ninguém sabe se tem, e se tem que novidade trarão — uma comédia do pior se não estivesse em causa intimidar quem decidiu enfrentá-lo. Amanhã outra coisa virá, que nesse aspecto o Presidente nunca desilude: está sempre pronto a surpreender-nos, cada vez pelos piores motivos. Resta saber até quando o partido que o suporta estará disposto a ignorar as bandeiras vermelhas que todos os dias se levantam, a fazer o pino para o defender, a suicidar-se com ele.