15 de agosto de 2017
A MORTE SAIU À RUA. Olhando para a trajectória de Trump desde a campanha eleitoral até ao fatídico fim-de-semana passado, a reacção do Presidente aos acontecimentos de Charlottesville (fez umas vagas declarações a condenar a violência «de muitas partes» que depois, encostado à parede, corrigiu a contragosto) foi coerente com o que tem dito — e feito — até agora. Fosse o terrorismo da Virgínia (sim, o que se passou na Virgínia chama-se terrorismo) praticado por radicais islâmicos, e Trump andaria, e bem, para aí aos gritos. Como veio de onde veio, isto é, de racistas, supremacistas brancos, simpatizantes do nazismo e outros espécimes do género (tudo gente que o apoiou e com quem Trump simpatiza parcial ou mesmo totalmente), limitou-se a uma espécie de condenação burocrática e a mudar rapidamente de assunto. Claro que os acontecimentos da Virgínia, muito estimulados pela retórica de Trump e dos media de extrema-direita, podem ser um rastilho para mais violência. Mas estou convencido de que tiveram pelo menos o mérito (digamos assim) de mostrar a natureza de quem nos governa, de lançar dúvidas entre alguns dos seus crentes. Como se viu nas manifestações espontâneas que logo surgiram um pouco por todo o país, é clara a associação que se faz dos acontecimentos da Virgínia à trajectória de Trump. Quem duvida que o sujeito potencia comportamentos de ódio, terá ficado com menos dúvidas. Não é muito, mas já é alguma coisa.