24 de agosto de 2017
PROVOCAÇÕES DELIBERADAMENTE PERIGOSAS. Duvido que alguém que pratica a mentira como um desporto (o Washington Post contabilizou uma média de cinco mentiras diárias) consiga minar a credibilidade de quem quer que seja, que de um mentiroso só se espera que minta. Mas já me pareceu mais improvável que Trump consiga, com as suas constantes declarações incendiárias, criar um clima de violência contra os media de que não gosta (leia-se todos os que noticiam assuntos que lhe desagradam). Os ataques do Presidente ao que ele designa por «fake news» e inimigos da pátria são cada vez mais frequentes, cada vez mais violentos, cada vez mais perigosos — porque Trump sempre gostou de pôr todos contra todos, de instigar o ódio entre quem discorda do pensamento único (leia-se o dele). Como qualquer pessoa minimamente informada já terá percebido, nunca, como hoje, foi tão necessário um jornalismo competente e actuante, e se por vezes se cometem erros, no geral está bom e recomenda-se. Mas se continuo convencido de que Trump perderá a guerra com os media, cada vez me parece mais provável que não sem antes haver vítimas. Não vítimas resultantes de danos colaterais (chantagens, despedimentos, coisas assim), que também haverá. Falo de «vítimas a sério», resultantes de violência física, que neste momento só me espanta ainda não existirem. Trump demonstrou durante a campanha que é um sujeito perigoso, voltou a demonstrá-lo já eleito, confirmou-o nos últimos dias. Quase apostaria que, a suceder, será o primeiro a dizer que estavam mesmo a pedi-las.