16 de novembro de 2018
TROPA FANDANGA. Suspeito que a tragicomédia de Tancos é só mais um caso nas Forças Armadas, que a serem investigadas a fundo dariam, suspeito de novo, uma novela a sério. Sim, é preciso preservar a dignidade da instituição, e fica bem aos políticos em geral e aos governantes em particular dizer bem das Forças Armadas. Mas eu, que por lá andei ano e meio, por sinal na mesma área do furto das armas, conheci o bastante para desconfiar, desde o desvio de arrobas de carne do quartel para a despensa de um sargento (que presenciei) a outros esquemas mais espirituosos (que só inalei). Quem, no final da tropa, não sabia onde arranjar um par de botas, uma camisa ou umas calças, que na hora de passar à peluda era preciso devolver? Claro que todos sabiam. Vendiam-se numa feira lá perto, à vista de toda a gente, ao lado de caralhotas de Almeirim e rabichas de Alcanena. E como lá iam parar? Eis uma pergunta meramente retórica. É por estas e por outras que me doem as cruzes sempre que alguém me vem dizer que as Forças Armadas são uma instituição respeitável. Têm medo que façam um golpe de Estado? Honestamente, e tendo em conta os últimos desenvolvimentos, duvido que tenham competência. Basta reparar nos detalhes de Tancos. Aquilo foi de um amadorismo a roçar o embaraçoso, e se fosse apenas ficção, dir-se-ia que era de tal modo inverosímil que ninguém lhe pegaria — ou então foi uma situação de tal modo corriqueira que só por acaso acabou nos jornais, o que ainda é pior. Depois seguiu-se o jogo das escondidas, em que meio mundo encobriu outro meio. Claro que as Forças Armadas não são um antro de corruptos ou de incompetentes. Também por isso seria bom que a história do paiol acabasse em pratos limpos.