2 de novembro de 2018

OS CRENTES DO ÓDIO. Ponto assente que o bombista da Florida é um fanático de Trump, e não me surpreenderia que seja um fanático que se limitou a fazer o que muitos gostariam de fazer — e que, apesar de as bombas não terem cumprido integralmente a sua missão, os tenham deixado a ferver de orgulho. E não me venham dizer que Cesar Sayoc é um caso isolado, porque não é. Olhando o perfil do sujeito, podia ser alguém que eu conheço — alguém que, parecendo incapaz de matar uma mosca, era homem para isso. A diferença é que o trumpista das bombas levou o fanatismo até às últimas consequências, enquanto estes que eu conheço se ficam por ódios de Facebook. Vi, como outros terão visto, quem postasse ilustrações sugerindo que teriam sido os democratas a montar o esquema das bombas. Como não disseram mais nada depois de conhecerem o autor, presumo que estejam a urdir novas teorias da conspiração — e entretanto removeram as ilustrações sem dizerem água vai, muito menos que se enganaram. Também não me convencem inteiramente as razões que explicam o trumpismo, ao qual os crentes se mantêm fiéis mesmo depois do trumpismo ter confirmado o pior. Quer-me parecer, isso sim, que o trumpismo resulta do ódio acumulado durante anos, não só contra os políticos, e que agora funciona, sobretudo, como válvula de escape. Como o ódio só gera mais ódio, desconfio que nem como catarse lhes será útil. Alguém que lhes meta a evidência nas suas pobres cabeças.