5 de novembro de 2019
O DESERTO. Não me lembro de ler uma única entrevista de um jovem escritor português (o conceito de jovem pode ir aqui até aos 50) que tenha citado um livro ou autor. Por comparação com os «antigos», que citavam com abundância as leituras que tinham feito e os autores que admiravam, a gente lê estes sujeitos e fica com a ideia de que não leram, que a literatura começou com eles. Sendo um escritor um leitor que escreve, como bem disse Vila-Matas, é estranho. De facto, fica-me sempre a interrogação quando deparo com um caso destes: se não leram, o que os motivou a escrever? Eis um bom caso para um Freud dos tempos modernos. Podia citar os dois ou três do costume (já falei deles em textos anteriores), mas talvez fosse injusto para com quem fica de fora. Todos «consagrados» pela «crítica» e, suponho, por se «venderem» bem em feiras e romarias (hoje praticamente obrigatórias), apesar de obrarem entre o vulgar e o confrangedor. Falo do que me parece a realidade portuguesa, mas o fenómeno talvez seja global. Extensivo, de resto, a outras áreas, nomeadamente à política, um deserto total.