20 de outubro de 2019
HEMINGWAY. Nunca foi um dos meus favoritos, e só concluí O Velho e o Mar depois de um amigo me ter garantido que o tinha lido mais de uma dúzia de vezes. Como suspeitava, não me entusiasmou. Gostei mais de Paris é uma Festa e de O Sol Nasce Sempre, pelo que os cinco títulos restantes que aguardam nas estantes provavelmente ficarão por ler. Mas gostei de visitar a casa-museu de Hemingway, de que me ficaram agradáveis memórias. Indo eu à procura do local, já farto de caminhar e a duvidar que estava no caminho certo, eis que me cruzo com um sósia de Hemingway, que só podia vir de lá. Chegado ao local, calhou-me uma visita guiada num grupo com outro Hemingway, este um pouco menos perfeito mas que passaria por Hemingway caso fosse preciso. Mas o espanto não acabou aí. Manteve-se quando subi, por uma escada íngreme, ao primeiro andar da cabana que Hemingway mandou construir nas traseiras da residência (onde, ao que consta, se isolava para escrever), imaginando-o a subi-las e a descê-las embriagado. Como não há notícia de qualquer incidente neste sobe e desce, deduzo, sem grande convicção, que não tenha havido. Mas custou-me a crer quando desci, tão sóbrio como subi. Afinal, tratei de não me distrair para não me estatelar — e a sobriedade é-me infinitamente mais fácil de gerir que a embriaguez. No caso de Hemingway, talvez a lendária embriaguez, o seu estado normal quando não escrevia, lhe fosse mais eficaz.