7 de fevereiro de 2020
A FARSA DOS COBARDES. Confirmou-se a farsa anunciada: o Senado americano, de maioria republicana, fez ouvidos de mercador (recusou-se a ouvir testemunhas cruciais que poderiam ter mudado o desfecho do processo de impugnação), e depois votou pela não destituição do presidente Trump. Quem não viu que Trump tentou chantagear o presidente ucraniano só pode ter sido porque não quis ver — e quem acha que o crime de que foi acusado não foi motivo bastante para o afastar da presidência jamais encontrará motivo bastante. Quem tomou conhecimento das evidências que foram surgindo viu que a acusação é cristalina e devidamente fundamentada, pelo que insistir que não houve nada, só quem está mal-informado ou mente descaradamente. As acusações que são feitas a Donald Trump não são matéria de opinião: são factos comprovados por testemunhas credíveis e às quais poderiam juntar-se outras mais que os republicanos não quiseram ouvir, porque os republicanos no Senado sabiam que as testemunhas iriam prejudicar Trump e eles, senadores republicanos, têm medo de Trump. Preocupados com os lugares que vão disputar em próximas eleições, os senadores republicanos preferiram acobardar-se a levar com a ira com que Trump iria brindá-los caso se atrevessem a contrariá-lo, como já se viu com o senador Mitt Romney, que teve a coragem de votar segundo a sua consciência e já está a pagar as consequências. É a democracia, dirão, o pior regime excluindo todos os outros. Sim, é a democracia no que tem de pior. É o regime que hoje se combate abertamente, que tem vindo a ser minado por ditadores e candidatos a ditadores diante a impotência de uns, a indiferença de outros e o aplauso geral de quem vê o mundo a preto e branco, dos que acreditam em soluções simples para problemas complicados e que por isso alimentam os evangelistas do ressentimento e os pregadores do ódio.