29 de setembro de 2020
UMA ESPÉCIE DE BOMBA ATÓMICA. Para quem não lê inglês, ou não tem paciência para ler um texto que demora uma boa meia hora a ler, o NY Times revelou, domingo, basicamente o seguinte: o Presidente Trump pagou 750 dólares de impostos federais no ano em que conquistou a presidência (2016), e o mesmo montante no primeiro ano na presidência (muito menos que um trabalhador por conta de outrem pertencente ao escalão mais baixo). Depois, não pagou impostos em 10 dos 15 anos anteriores, alegando mais perdas que ganhos. Diz mais o Times: o alegado sucesso de Trump nos negócios é pura ficção (uma investigação do jornal USA Today já o tinha demonstrado há mais de dois anos), e tem uma dívida de mais de 400 milhões de dólares que vai ter que pagar nos próximos quatro anos, circunstância que o coloca à mercê dos credores — todos, ou quase todos, estrangeiros, o que levanta preocupações ao nível da segurança do país. Promete mais o diário nova-iorquino sobre os impostos do Presidente, mas isto chega para dizer duas coisas: não haverá explicação de Trump ou dos seus advogados capaz de convencer que não houve aqui vigarices — e das grandes; dizer que a história do Times é falsa, como dizem Trump e os seus advogados, é fácil e barato, mas só funciona para quem for mais trumpista que Trump.
15 de setembro de 2020
OU O PODER, OU A CADEIA. Donald Trump sabe melhor que ninguém que se perder em Novembro pode acabar na cadeia. Resta-lhe, por isso, apostar num cenário catastrófico: ou ele, ou o apocalipse. Muito pior: interessa-lhe criar o caos para depois aparecer como o presidente da «lei e da ordem», o último slogan da sua campanha. Os manifestantes contra o racismo e a violência policial são radicais perigosos. Os seus apoiantes que os combatem, com armas de guerra e matando, são patriotas. É isto o que o sujeito diz e repete. Em vez de reconciliar os desavindos, como faria qualquer presidente, faz os possíveis para os manter desavindos. Porque suspeita, a meu ver com razão, que o caos o beneficiará em Novembro, apesar de toda a violência de que se queixa ocorrer durante o seu mandato como Presidente — logo ele ser o primeiro responsável. Escrevi ainda antes de Trump ser eleito que o sujeito era perigoso. Mas hoje, quatro anos volvidos, demonstrou-se que é mais perigoso do que eu pensava. Como sabe que os sarilhos em que entretanto se meteu podem ter um desfecho cruel caso não seja reeleito, não hesitará em fazer o que for preciso para salvar a pele. E o que for preciso, para ele, inclui o pior que possam imaginar.
2 de setembro de 2020
CALIXTOS HÁ MUITOS. A morte de 18 idosos no lar de Reguengos de Monsaraz em circunstâncias não inteiramente esclarecidas colocou, a reboque do caso, de novo na ribalta o poder local. Os jornalistas que lá foram investigar a ocorrência descobriram que José Calixto, presidente da autarquia local, ocupa pelo menos 13 cargos, incluindo o de presidente da fundação do lar onde a tragédia ocorreu, e o assunto voltou a ser questionado. Calixto, uma espécie de senhor feudal lá do sítio, ocupa todos estes cargos graças ao partido a que pertence, o PS, e os que não ocupa são ocupados por companheiros do mesmo partido. Como é sabido, as autarquias locais estão cheias de calixtos. Do PS e do PSD, mas também do PC e, talvez, do CDS. Como raramente são escrutinados (a imprensa regional vive refém das receitas das autarquias e a imprensa nacional não presta atenção às regiões), grande parte das autarquias funciona em roda livre, sem qualquer escrutínio, e quem abrir a boca contra o poder instalado arrisca perder o emprego, próprio ou de um familiar, e o jornal local o mais certo é fechar. Gostaria de pensar que este cenário só se aplica a um caso ou outro, mas sabemos que não é assim. Não creio, já agora, que a regionalização, de que se recomeçou a falar, resolveria o problema. Antes pelo contrário. Agravá-lo-ia, e muito.
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