3 de dezembro de 2020

DECLÍNIO E QUEDA(*). Que o Presidente Trump reclame ter sido vítima de fraude eleitoral, antes e depois das eleições, sem apresentar uma só evidência, seria mais uma mentira a juntar às milhares com que já nos brindou não fosse grave, demasiado grave. Mas que o advogado Giuliani se apresente nos tribunais alegando a mesmíssima fraude, de novo sem uma só evidência, nem para anedota serve. Como pode um advogado experiente, pago a peso de ouro, apresentar-se nos tribunais implorando que estes condenem alegadas fraudes sem nada que o demonstre, a ponto de ser humilhado pelos juízes? Só quem não está bom da cabeça, ou tem outro objectivo em mente. O Times de Nova Iorque revelou que estará em cima da mesa um perdão presidencial para Giuliani, embora o próprio desminta. Faz todo o sentido. Mas é preciso ver que um perdão presidencial, a concretizar-se, só contempla crimes federais, e Giuliani tem contas a ajustar com o estado de Nova Iorque (pelo menos). O «mayor da América», como ficou conhecido depois do 11 de Setembro de 2001, vai para a História com a imagem de um cadáver em decomposição que se viu na patética conferência de imprensa onde tentou demonstrar o indemonstrável. Assenta-lhe bem o retrato que fez por merecer. 
(*) Título da tradução portuguesa de Decline and Fall (Relógio D'Água), de Evelyn Waugh