4 de janeiro de 2021

O PESADELO NÃO ACABOU. Se nada mudar até lá, uma dúzia de senadores e mais de uma centena de congressistas, todos do Partido Republicado, vão quarta-feira tentar roubar a eleição de Joe Biden. Porque Trump foi vítima de fraude eleitoral, dizem eles, e porque o sujeito, apesar de derrotado, vale 74 milhões de votos. Contam, para isso, com apoiantes de Trump na rua, e alguns deles até já apelaram à violência. É a mais recente tentativa de incendiar o país e com isso destruir a democracia, desta vez com base em «alegações» e, segundo o Presidente, «rumores». Reparem: não com provas ou evidências, que dezenas de tribunais demonstraram não existir, mas com base em «alegações» e «rumores». Escrevi que é a mais recente tentativa de incendiar o país mas já houve outra, ainda mais grave: o Presidente exigiu ao responsável pela certificação dos votos presidenciais no estado da Geórgia que inventasse — ou destruísse — milhares de votos, de modo a transformar a derrota em vitória — provavelmente o crime mais grave que o Presidente cometeu até hoje. Sabia que Trump iria fazer tudo o que estiver ao seu alcance até ao seu último dia na Casa Branca (20 de Janeiro), incluindo o pior que se possa imaginar. Mas pensei que, depois da derrota em todas as frentes (nas urnas e nos tribunais), tínhamos, enfim, regressado à normalidade. Enganei-me. Nunca imaginei que a democracia americana lutasse neste momento pela sobrevivência. Como não bastasse o sujeito, que trava uma guerra de vida ou de morte unicamente para salvar a pele, cento e tal políticos eleitos preparam-se para dizer ao país que são tão maus ou piores do que ele.