23 de dezembro de 2020

TÃO BOM COMO LE CARRÉ. O episódio contado por Alexey Navalny, líder da oposição russa que há muito denuncia a corrupção na administração Putin, e que por esse motivo as secretas locais o terão tentado matar, obviamente a mando de Putin, valia o melhor Le Carré, de quem li sete romances e um livro de memórias (O Túnel de Pombos). David John Moore Cornwell, que adoptou o pseudónimo literário Le Carré quando ainda era agente dos serviços secretos britânicos, faleceu a semana passada, aos 89 anos, vítima de pneumonia; já Navalny, 44 anos, escapou, por milagre, em Agosto passado, a uma dezena de assassinos que o seguia há três anos e continua a recuperar algures na Alemanha do envenenamento de que foi vítima. Se o primeiro já estava no panteão da literatura, o segundo passou a destacar-se na já longa lista de vítimas do ditador russo — não por morrer, mas pela proeza de pôr os seus assassinos a revelar o plano, falhado, de o matar. O que Le Carré não faria com um episódio destes.