14 de julho de 2021
A COR DO PODER. Há um número considerável de americanos brancos convencidos de que o poder lhes pertence por serem brancos, embora muito poucos o assumam. Tirando numa roda de amigos, onde estão à vontade para dizer as maiores barbaridades, não defendem o princípio diante mais ninguém. Porque eles sabem que não há argumentos que fundamentem o que têm como direito adquirido (os brancos são superiores às outras raças, nomeadamente aos negros), e não, como possa pensar-se, por receio da incorreção política. A eleição de Barack Obama, primeiro negro na Casa Branca, impulsionou esta gente, e não foi por acaso que os supremacistas brancos saíram do armário com a eleição de Trump, que os defendeu por acção e omissão. Afinal, os activistas pela supremacia branca são o lado visível do que dantes era quase invisível, e com Trump passaram a contar com os que dantes permaneciam no armário. Tucker Carlson, entertainer da Fox News, supremacista branco nunca assumido, exaltou a atitude de um adolescente que, na sequência dos distúrbios que se seguiram à morte de um negro às mãos de um polícia branco (já condenado a 22 anos de cadeia), veio para a rua armado de metralhadora e matou duas pessoas. Segundo Carlson, o miúdo fez o que a polícia deveria ter feito, e por isso não hesitou em chamar-lhe «patriota». Tirando a indignação de uns poucos, a afirmação do sujeito não chegou a escandalizar, e dois dias depois já não se falava do assunto. Os americanos brancos de que falo julgam que o poder lhes pertence, pelo que estão dispostos a apoiar quem se disponha a lutar, mesmo com armas de fogo, por esse «direito». Com a saída de Trump da Casa Branca, terá passado o pior. Continuam, no entanto, à espera de oportunidade para ir mais longe do que já foram. Convém, portanto, estar atento, e o mal que causaram nos últimos anos deve servir de aviso. Permanecer indiferente ao supremacismo branco nos dias que correm é demasiado arriscado. Ou então é sinónimo de cumplicidade.