1 de julho de 2021


MEMÓRIAS DE UM ÁTOMO (6).
De longe em longe, almoço um hambúrguer num comedouro onde o ícone americano faz as honras da casa, e saio de lá a jurar que jamais voltarei. Não que o hambúrguer seja mau. O problema é o serviço, sempre pior que o anterior, e o anterior já foi mau que chegasse. Calha-me sempre um empregado que não tem ideia do que está a fazer, como se fosse o seu primeiro dia de trabalho — e às vezes é, porque o estaminé está sempre a mudar de gerência, sempre pior que a anterior. Um dia destes reincidi e bateram todos os recordes. A única criatura visível lá dentro quando me sentei ao balcão era o empregado sentado numa das mesas a limpar os talheres. Levantou-se mal me viu, e a primeira coisa que fez foi ligar a música. E que música! Louvar o Senhor a cada dois versos e aleluias a cada três — tudo isto em «brasileiro» e num volume medonho. Encomendei o hambúrguer, e quando escolhi a cerveja a copo nenhuma das torneiras deitava. «Hoje estamos mesmo sem nada», desculpou-se o empregado. De facto, notava-se bastante, e só me faltava que não houvesse cerveja em garrafa. Havia. Não a que eu queria, mas nesta altura qualquer uma servia. Imaginei que iriam fechar a baiuca no dia seguinte, e amaldiçoei a hora em que mudei de planos para o almoço. Degustei o hambúrguer desconfiado, confeccionado por alguém que não cheguei a ver e me surpreendeu pela rapidez com que o fez. Saí de lá com o cérebro em ebulição e a barriga às voltas, na iminência de uma diarreia ou pior, tanto mais que não entrou nem mais um cliente enquanto lá estive. Jurei, pela terceira vez, que jamais lá porei os pés.