19 de outubro de 2021
SOL E SOMBRA. Sigo com atenção cada novo argumento em defesa das touradas, mas continuam a não me convencer. Tirando os aficionados e os directa ou indirectamente interessados, contra os quais nada tenho, as touradas são, para mim, um espectáculo grotesco, em que o animal não tem as mesmas armas para lutar que o adversário — e, por isso, perde sempre. Também o argumento de que se trata de uma actividade que faz parte da cultura portuguesa, uma tradição com centenas ou milhares de anos, não me convence. A irmos por aqui, estaríamos hoje a ver lutas de gladiadores como no império romano (não é uma tradição portuguesa, mas serve para o caso), a praticar outras tradições entretanto banidas pelo mesmo motivo que hoje, como dantes, um fidalgo não mata o seu criado e fica impune. Não vejo, honestamente, um argumento atendível em defesa das touradas, muito menos das touradas onde o touro, torturado e exausto, é morto na arena. E não me venham com o argumento de que a proibição das touradas abre a porta à proibição da matança do porco e da galinha para a cabidela, como vi já escrito por aí. Dizer que uma coisa leva a outras é uma falácia, um «argumento» de quem os não tem.