1 de dezembro de 2021
TROPA FANDANGA. Não confundir a estrada da Beira com a beira da estrada, diz-se sempre que há «um caso» com as Forças Armadas (FA). Porque as FA são uma instituição respeitável; porque a excelência das FA nunca está em causa mesmo que por lá surjam casos de polícia; porque é preciso preservar a dignidade da instituição; e porque as FA prestigiam o país não sei onde nem porquê. A verdade é que é difícil não confundir a estrada da Beira com a beira da estrada. Ele é o caso do furto das armas, que um soldado da GNR resolveria num abrir e fechar de olhos e o tribunal arrasta há quatro anos e meio; ele é a Força Aérea, que abastecia as messes de oficiais a um preço superior ao devido e depois repartia a diferença entre fornecedores e oficiais de alta patente; ele são os comandos que se envolveram numa rede criminosa internacional de contrabando de diamantes, ouro, estupefacientes e moeda falsa; ele são as caçadas mais ou menos clandestinas em áreas militares praticadas por empresários e altas patentes das FA. Isto só para comentar o que é público e apenas os últimos quatro anos, que o Presidente da República diz serem «casos isolados» que não põem em causa a «excelência» e a «reputação» das FA, que são, para ele, «o orgulho de Portugal». Acontece que são demasiados os «casos isolados» para que se possa falar em «excelência» e boa «reputação» das FA, como o Presidente muito bem sabe, e não escandalizará ninguém dizer-se que o prestígio das FA anda pelas ruas da amargura. As Forças Armadas não são um bando de delinquentes, que fique bem claro. O meu problema com elas é a evidente rebaldaria que por lá vai, e não gosto que me tentem vender como bom o que não é bom. Andei por lá tempo suficiente para ver demasiados «casos isolados» praticados às claras e conhecidos de todos que nunca foram notícia. Nada disto, portanto, é novidade para mim. A novidade é a sofisticação com que hoje se praticam estas e outras malfeitorias e como se tornam públicas mais facilmente do que dantes.