31 de maio de 2004
Ana Manso, vice-presidente do grupo parlamentar do PSD e candidata ao Parlamento Europeu, disse que Sousa Franco é «um homem sem categoria», a quem falta «alguma coisa em termos físicos». João Almeida, líder da Juventude Popular, caracterizou Sousa Franco como um «senhor careca, de óculos grandes e esquisitos». Paulo Portas, ministro da Defesa e líder do CDS/PP, diz que Sousa Franco «não é apenas o pai do défice», mas «o pai, a mãe, o avô, a avó, o gato e o periquito». A peixeirada já levou o presidente Sampaio a pedir contenção, porque «estão em jogo interesses vitais» para Portugal. Ora, com todo o respeito pelo PR, não me parece que os «interesses vitais» de Portugal saiam melhor defendidos pondo fim à peixeirada, porque a peixeirada tem o condão de chamar a atenção para uma eleição cuja importância a maioria dos portugueses desconhece.
28 de maio de 2004
«É sintomático que as duas finais europeias [Liga dos Campeões e Taça UEFA] deste ano tenham reunido dois clubes do Sul da França e dois de Espanha e Portugal, e que nenhum deles venha das capitais destes países. Não é Londres nem Paris, nem sequer Madrid ou Roma, que manda os seus clubes às finais. Nestas capitais há outros objectos de investimento e de glória», diz Villaverde Cabral. E eu pergunto: será que Villaverde Cabral acredita mesmo que a aparente secundarização do futebol em Paris, Madrid ou Lisboa se deve a «outros objectos de investimento e de glória», ou é um mero desejo que assim fosse?
26 de maio de 2004
«O que teria acontecido a Guevara se não tivesse sido assassinado?», pergunta o Francisco José Viegas. A pergunta é pertinente e faz todo o sentido. Como é pertinente e faz todo o sentido perguntar: o que estaríamos a dizer hoje de Francisco Sá Carneiro caso não tivesse morrido num acidente (ou atentado) de aviação?
25 de maio de 2004
Eu não gosto de Cavaco Silva, Pinto da Costa e José Mourinho. (Há mais que eu não gosto, mas estes chegam para o que quero dizer.) Mas há uma coisa que os três cavalheiros têm em comum que eu aprecio: a capacidade de fazer. De fazer e, regra geral, bem feito. Ora, perante obra feita, ainda por cima que prestigiou o país, eu só posso curvar-me. Mas fica uma dúvida: será que é necessário ser-se arrogante para alcançar o sucesso?
24 de maio de 2004
Para o Tulius Detritus, «continua a não existir ninguém a escrever regularmente na imprensa lusitana» que faça sombra a Clara Ferreira Alves. Eu não concordo nem um milímetro com esta ideia, mas não rebato. Mas apetece-me deixar aqui uma pergunta: quem ainda se lembra de Vasco Pulido Valente ter dito (e escrito), um dia, que Clara Ferreira Alves não sabia escrever?
20 de maio de 2004
Já o disse uma vez mas volto a repetir: gostaria de ver a comunidade muçulmana condenar de forma clara e inequívoca os atentados terroristas cometidos por radicais islâmicos e dizer que não se revê em tais métodos. É que, até agora, os muçulmanos têm-se limitado a condenar os atentados pela voz de um outro membro ilustre ou de um ou outro especialista — e só quando solicitados a pronunciarem-se. Como não sou de meias-palavras, aqui vai o que eu penso. As comunidades muçulmanas que vivem em países livres podem não rever-se nos métodos usados pela Al-Qaeda ou organizações similares, mas revêem-se nos pressupostos. E isso é que é preocupante.
19 de maio de 2004
Se a memória não me falha, tenho três livros de Agustina (O Mosteiro, Fanny Owen e Os Meninos de Ouro), mas ainda não li nenhum. Tal como algumas dezenas de outros livros, Agustina está na prateleira reservada aos livros por ler, porque as prioridades têm sido outras. Daí que não tenho qualquer opinião sobre a escritora, muito menos sobre a justeza do Prémio Camões que hoje lhe foi atribuído e por toda a gente considerado como justíssimo. Até pelos que nunca leram uma linha de Agustina, e era aqui que eu queria chegar.
18 de maio de 2004
Consta que o FC Porto ainda não convidou a Assembleia da República para a final da Liga dos Campeões, convite que se traduzirá no envio de uma delegação de não sei quantos deputados à final do dia 26. Vai daí, Mota Amaral já avisou: quem faltar à sessão parlamentar do dia 26, terá falta. E, caso alguém se tenha esquecido, quatro ou mais faltas sem justificação durante uma legislatura dão direito a perda de mandato. Temos, assim, que a Assembleia da República está refém de um convite formal do sr. Pinto da Costa — e eu já estou a imaginar o sr. Pinto da Costa a rebolar-se de gozo.
17 de maio de 2004
14 de maio de 2004
Os tempos vão de feição para os livros. Afinal, tenho dúzias deles que ainda não li por falta de tempo. De maneira que fiquem bem e com uma citação de Vergílio Ferreira, muito apropriada aos tempos que correm: «O homem não gosta da paz. Gosta só de conquistá-la. Entre uma coisa e outra há muita gente estendida. É a que tem a paz verdadeira.»
13 de maio de 2004
Mesmo sabendo-se que não há «guerras limpas», e que não há guerra em que não se atropele as regras mais elementares, não há razões que expliquem a tortura contra presos no Iraque, em Guantanamo ou onde quer que seja. Nenhuma razão, mesmo sabendo-se que, em certos casos, o uso da tortura pode evitar males maiores (já li algumas teses sobre isto que dão que pensar). Por uma razão muito simples: o argumento (evitar males maiores) não deixaria de justificar o uso da tortura em toda e qualquer circunstância.
O New York Times resolveu dizer que o presidente Lula bebe demais e caiu o Carmo e a Trindade. Tudo porque o governo brasileiro considerou que a notícia não tem fundamento e que o «ataque» do NYT se deve ao facto de Lula estar a incomodar não sei que interesses americanos. Vai daí, não esteve com meias medidas: expulsou o correspondente do Times no Brasil — ou usou um expediente que, na prática, vai dar ao mesmo. Ora, independentemente da razão que assiste ao presidente Lula, há duas coisas de que não se livra: o ter-se coberto de ridículo e ter demonstrado que se dá mal com a democracia.
11 de maio de 2004
O Pedro Oliveira acha que o namorado da vizinha correu um gato a pontapé por causa das imagens que diariamente lhe chegam de Falluja, Najaf, Gaza e Abu Ghraib, porque «a violência e o sadismo são contagiantes». Um espanto este Pedro Oliveira.
8 de maio de 2004
A justiça pode ter todas as razões do mundo para manter preso Carlos Silvino ("Bibi") e libertar todos os outros arguidos — e eu quero acreditar que tem. Mas, até ver, há uma imagem que a justiça deixou clara: quem tem meios para sair da prisão, sai da prisão; quem não tem meios para sair da prisão, não sai da prisão. Como se vê, não é só em política que as coisas são o que parecem.
7 de maio de 2004
Uma mensagem atribuída a Usama bin Laden oferece 10 quilos de ouro a quem matar o secretário-geral das Nações Unidas. Reparem bem: o secretário-geral das Nações Unidas. Ora, eu gostaria muito de saber o que pensam os «pacifistas» do costume sobre este assunto, nomeadamente os «pacifistas» que julgam que a ONU é o remédio para todos os males.
O recorde atingido pela venda de um quadro de Picasso (104 milhões de dólares), em Nova Iorque, não me impressionou. Muito honestamente, a única coisa que me faria olhar duas vezes para o Garçon à la Pipe seria o negócio, e só o negócio. Em termos de gosto, trocaria o Garçon por qualquer Van Gogh ou Monet, mas gostos não se discutem.
As lamentáveis cenas de tortura envolvendo a tropa americana (e inglesa, ao que parece), que jamais serão justificáveis, estão a servir para fazer passar a ideia de que a tortura é uma prática corrente da tropa americana (e inglesa, presume-se). O Daniel Oliveira, por exemplo, já fez saber que a tortura da tropa americana não é um caso isolado. E, depois, jura que o problema dele é com o sr. Bush.
6 de maio de 2004
4 de maio de 2004
Quem quer saber de outra coisa que não seja a vitória do Porto e a saída em liberdade de Carlos Cruz? Se querem saber, então leiam este "post" do Almocreve das Petas que transcrevo na íntegra:
«Empanturrada de originalidade lusitana, a classe política anda perturbada por tresmalhadas intenções malévolas. Os ditos perfumados que berram os jornais - a lista de mazelas é um choradinho de vendas nos jornais e televisões – sobre as mais variadas formas de corruptelas, são um murmúrio entre os incautos indígenas, ao mesmo tempo que exigem uma faina comovente, uma vidinha de trabalho para a classe política, jornalistas e analistas.
Os artistas da coisa pública declaram a sua estranheza pelo singular fenómeno que atingiu Portugal. Os presidentes de câmara manifestam apreciações poéticas sobre empreiteiros e professam inocência em glória do desporto e dos clubes. Recebem, com uma espiritualidade romântica, em roupão sem monograma. O público, malicioso, fica verde de inveja e aplaude. O emproado Santana dá cambalhotas em cima dos acólitos laranjas. Marques Mendes põe-se em bicos de pés. O talento insólito de Alberto João defuma o continente. Marcelo, em improviso deslumbrante, pontifica a absolvição. Os socialistas sorriem. E Sampaio sai da preguiça para fazer rascunho presidencial.
Enquanto isso, a malta da província e do futebol, alucinada, faz cimeiras à porta dos tribunais. Depois de Felgueiras, sem outro arranjo cénico, eis Gondomar. A mesma casta, o mesmo poder, a mesma cegueira. Na poltrona da governação, Barroso, desnorteado e cansado, faz de arreliado. Pires de Lima, confessa que ainda não se esfarelou contra uma TV, por caridade cristã, evidentemente. Marcelo, muito embuchado, debita Códigos e faz reprimendas. Vasco Pulido Valente lê histórias aos quadradinhos. O País ressurgiu. A "faxina" doméstica está aí. As trapalhadas, também.»
«Empanturrada de originalidade lusitana, a classe política anda perturbada por tresmalhadas intenções malévolas. Os ditos perfumados que berram os jornais - a lista de mazelas é um choradinho de vendas nos jornais e televisões – sobre as mais variadas formas de corruptelas, são um murmúrio entre os incautos indígenas, ao mesmo tempo que exigem uma faina comovente, uma vidinha de trabalho para a classe política, jornalistas e analistas.
Os artistas da coisa pública declaram a sua estranheza pelo singular fenómeno que atingiu Portugal. Os presidentes de câmara manifestam apreciações poéticas sobre empreiteiros e professam inocência em glória do desporto e dos clubes. Recebem, com uma espiritualidade romântica, em roupão sem monograma. O público, malicioso, fica verde de inveja e aplaude. O emproado Santana dá cambalhotas em cima dos acólitos laranjas. Marques Mendes põe-se em bicos de pés. O talento insólito de Alberto João defuma o continente. Marcelo, em improviso deslumbrante, pontifica a absolvição. Os socialistas sorriem. E Sampaio sai da preguiça para fazer rascunho presidencial.
Enquanto isso, a malta da província e do futebol, alucinada, faz cimeiras à porta dos tribunais. Depois de Felgueiras, sem outro arranjo cénico, eis Gondomar. A mesma casta, o mesmo poder, a mesma cegueira. Na poltrona da governação, Barroso, desnorteado e cansado, faz de arreliado. Pires de Lima, confessa que ainda não se esfarelou contra uma TV, por caridade cristã, evidentemente. Marcelo, muito embuchado, debita Códigos e faz reprimendas. Vasco Pulido Valente lê histórias aos quadradinhos. O País ressurgiu. A "faxina" doméstica está aí. As trapalhadas, também.»
3 de maio de 2004
Como seria de prever, a Federação Portuguesa de Futebol suspendeu preventivamente o futebolista Rui Jorge devido a uma análise anti-doping ter acusado positivo. O processo vai, agora, ser investigado, podendo começar pelo afastamento de Rui Jorge da lista de convocados para o Euro2004 e terminar com uma pena de suspensão efectiva. Se bem se lembram, desde a primeira hora que o Sporting admitiu a utilização incorrecta de um medicamento alegadamente destinado a minorar uma «crise alérgica» do atleta em questão. Temos, assim, que Rui Jorge está inocente. Ou pior: o atleta poderá ter consumido a substância ilegal na mais perfeita ignorância das suas consequências. Será assim? Bom, à primeira vista, parece. Mas quantos atletas admitiram o consumo de substâncias proibidas uma vez apanhados? Que eu saiba, nenhum. Sem dúvida que é revoltante ser-se acusado — e, pior, punido — por um acto que não se cometeu — ou se cometeu por ignorância ou boa-fé. Mas quem põe as mãos no fogo por Rui Jorge?
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