30 de setembro de 2004
29 de setembro de 2004
A IstoÉ publicou uma reportagem sobre os negócios da fé no Brasil que devia fazer meditar o dr. Mário Soares, que não hesitou em equiparar o alegado fundamentalismo «evangélico», «judaico-ortodoxo» e «dos mercados» ao fundamentalismo islâmico.
28 de setembro de 2004
27 de setembro de 2004
24 de setembro de 2004
Numa entrevista ao Público (penso que já não está disponível "online"), o escritor sírio Ammar Abdulhamid admitiu que há um ódio generalizado do Islão ao Ocidente. E aponta um caminho a seguir para pôr fim a esse ódio: a «comunidade internacional» (leia-se o Ocidente) deve apoiar, «financeira e politicamente», os grupos reformistas no «caminho para uma compreensão diferente e mais moderna do Islão». Ora, a ser como ele diz, isso criaria um problema. Como iriam os sectores tradicionais do Islão entender o apoio do Ocidente aos tais grupos reformadores que não fosse uma ingerência no sentido de os controlar? Será que um apoio do género não iria gerar ainda mais ódio ao Ocidente? Será que não iria pôr em causa, porventura de forma irremediável, os fundamentos e capacidade de acção destes grupos reformadores?
23 de setembro de 2004
Eu gosto de Pacheco Pereira e, por regra, concordo com ele (a crónica no Público de hoje é um bom exemplo). Mas a fixação em Santana Lopes (por quem eu já aqui disse que não simpatizo), a quem critica por tudo e por nada, como se ele fizesse tudo mal feito, parece-me um exagero. Que Pacheco Pereira não goste de Santana, compreende-se e respeita-se. Mas que o critique apenas por essa razão, já não se compreende. Aliás, se recordarmos o que disse Pacheco Pereira ainda antes da tomada de posse de Santana Lopes como primeiro-ministro, o Governo já era mau antes de o ser.
«A senhorita sabe o que é cona? Panasca? Pila? Paneleiro? Tirar os três? Pois, pois. E broche, minha amiga, posso lhe garantir que não é “jóia ou bijuteria provida de um alfinete longo ou de um alfinete com fecho, que se usa geralmente ao peito para prender e/ou enfeitar uma peça de vestuário”. Não, não é nada disso», diz Mário Prata, a quem coube a tarefa de «transformar o pipi português em pipi brasileiro». Já foi publicada há dois meses a crónica de onde roubei este extracto, mas vale a pena ler na mesma. Até porque o escritor brasileiro faz afirmações como esta: «o futuro da literatura está na internet».
21 de setembro de 2004
Eu sempre tive respeito e admiração por Manuel Alegre, embora cada vez me reveja menos nas ideias que ele defende — e, já agora, nos métodos de as pôr em prática. E tenho admiração e respeito porque ele é um homem frontal, que pensa pela sua própria cabeça, mesmo que isso lhe custe alguns dissabores. Custa-me, por isso, ver Manuel Alegre manifestar preocupação com o processo eleitoral no PS, porque «toda a gente sabe que há 40 militantes a morar na mesma casa e até num cemitério, que há uma rua onde há mais militantes socialistas do que eleitores». Custa-me porque isto quer dizer que Manuel Alegre conhecia a situação mas nunca se ralou. Pelo menos nunca o ouvi protestar, e seguramente que eu me lembraria caso ele protestasse. Bem sei que ele já veio dizer que, caso perca, aceitará o resultado — e, presume-se, não usará o argumento para justificar a vitória do adversário. Mas não lhe fica bem na mesma vir, agora, falar acerca do que dantes calou. Por duas razões: em primeiro lugar, porque não deixa de insinuar que a suposta aldrabice favorece um dos adversários (José Sócrates); depois, porque já o devia ter dito há mais tempo.
Vital Moreira não cabe em si de contente pelo facto de Kofi Annan ter dito, «com todas as letras», que a guerra do Iraque foi ilegal. Ora, eu acho que Vital Moreira devia ser mais comedido. Afinal, o secretário-geral da ONU disse que a guerra do Iraque foi ilegal... um ano e meio após ter começado.
O Luís Rainha, que chamou «calhau com gel» a Santana Lopes, acha que os EUA são «sinistros e concentracionários». Reparem bem: os EUA, não o presidente Bush. E depois o problema dele não é os EUA, mas o presidente Bush.
20 de setembro de 2004
Se você descobrisse que o seu vizinho se preparava para o destruir logo que tivesse oportunidade, qual seria a sua reacção? Deixava-se ficar à espera que isso sucedesse, ou destrui-lo-ia antes que o destruísse a si? É esta a lógica da guerra preventiva, que o sr. Putin já ameaçou pôr em prática e que a mim me deixa reservas — como me deixou reservas a guerra preventiva iniciada pelos EUA. Como ter a certeza de que o nosso vizinho se prepara para nos destruir antes de isso suceder? Com que direito se destrói o nosso vizinho com base em ameaças que nunca se concretizaram? Este é o dilema, terrível dilema, e a razão porque a guerra preventiva não pode — nem deve — ser um tema pacífico. Mas seria de mais pedir que se discutisse o caso com espírito aberto, sem ideias pré-concebidas?
17 de setembro de 2004
«Não se pode combater o terrorismo sem eliminar as suas causas», disse Guterres numa entrevista a um semanário moçambicano. E quais são as causas do terrorismo para o ex-primeiro ministro? «A pobreza, a falta de coesão social e o facto de os povos não poderem "determinar, por si, os seus destinos".» Ora, tirando a primeira (a pobreza), não percebo o que Guterres quer dizer com a coesão e o destino. Mas como a tese da pobreza já foi largamente desmentida pelos factos, parece-me que não vale a pena matar a cabeça para perceber o resto.
Mário Bettencourt Resendes resolveu desafiar o presidente da Madeira: «dr. Alberto João: coragem, avance, exproprie, respeite a sua reputação de pagador de promessas eleitorais. Cá estaremos para ver o que acontece». Bettencourt Resendes refere-se às recentes ameaças de expropriação do Diário de Notícias (da Madeira) por parte do dr. Alberto João, e aproveitou para lembrar: «Há muitos anos que o Governo da Madeira, num esforço comovente de "defesa do pluralismo", tem enterrado milhões — muitos milhões... — provenientes de dinheiros públicos no apoio, a fundo perdido, a projectos jornalísticos que pretendem disputar o terreno ao pesadelo maior de Alberto João [Diário de Notícias da Madeira]. Como os leitores não são parvos, a cruzada acabou por ser um auxílio precioso, que contribuiu para fortalecer a imagem de credibilidade do jornal dirigido por José Câmara.» Nada disto é novidade, mas é bom que alguém o volte a lembrar.
16 de setembro de 2004
Ainda não sei em quem vou votar nas eleições presidenciais de Novembro. Mas a trapalhada da CBS (nada inocente, como se calcula), ao revelar documentos que colocam em causa o passado militar do presidente americano e se revelaram falsos — só me empurra para Bush. Aliás, toda a minha (pouca) simpatia por Bush resultou de situações como esta. O que me leva, uma vez mais, a perguntar: porque será que os adversários de Bush têm necessidade de recorrer sistematicamente às meias verdades e à mais pura mentira para impor os seus pontos de vista?
«Ideias, frases e factos circulam na blogosfera e, quando verificados, dão ao resto da comunicação social uma dimensão complementar - mais memória, mais conhecimento especializado, mais variedade de temas, novos ângulos de aproximação a um assunto, mais imaginação, maior cobertura regional através de blogues locais.» Pacheco Pereira no Público de hoje. Vale a pena ler, ainda, e também no Público de hoje, um (excelente) artigo de Guilherme Valente.
14 de setembro de 2004
Acabei de ler uma entrevista de Agualusa à revista Época (dica de Francisco José Viegas) e lembrei-me imediatamente de Fradique Mendes quando ele diz: «Flaubert catava dos seus livros todos os termos que não pudessem ser usados na conversa pelo seu criado: daí vem ele ter produzido uma prosa imortal. E a razão é que só os termos simples, usuais, banais, correspondendo às coisas, ao sentimento, à modalidade simples, não envelhecem. O homem, mentalmente, pensa em resumo e com simplicidade, nos termos mais banais e usuais. Termos complicados, são já um esforço de literatura — e quanto menos literatura se puser numa obra de arte, mais ela durará».
13 de setembro de 2004
«Trinta anos depois da instauração da democracia, existem ainda sociedades secretas com membros em postos importantíssimos do Estado reivindicando a democracia, dizendo defender a democracia, dizendo-se até mais democráticos que outros, mas que não observam a mais elementar das regras da democracia: a participação aberta na sociedade aberta, a divulgação franca pelos seus membros dos objectivos da sua militância.» Eduardo Cintra Torres, sobre a maçonaria.
Apesar da retórica, a União Europeia não fez nada — ou quase nada — para reforçar a segurança dos países membros face ao terrorismo. É a ideia que fica após a leitura da entrevista ao Público de António Vitorino.
9 de setembro de 2004
8 de setembro de 2004
7 de setembro de 2004
Só agora dei conta, mas ainda vai a tempo. O José Mário Silva diz que «Os Meios de Transporte» (de Marta Cristina de Araújo) é «um livro que é preciso celebrar», pois foi escrito por uma «autora singular e muitíssimo interessante». Dá um exemplo no Diário de Notícias («O automóvel rompe o começo da noite que amacia os contornos, menos o volume das casas focadas de branco, isoladas, das fincas, onde arquitectos anónimos não registaram o invento de uma fresta de luz»), e outro no Blogue de Esquerda («O mar ali ao lado, mediterrânico, familiar, dos jantares a vê-lo adormecer do terraço, das grandes verdades sustidas na margem, árvores entre o sal e a terra, conhecidas desde a hastezinha e da estaca domadora. Jardineiro sorri entre buganvílias e gerânios, altera o estender à sombra da acácia e do chorão, Ofélia pendente sobre os rios da largura de um corpo longo, vestido de linho e algas. Parca a corrente, assim se ouvem as vozes e loucura do canto. Perto, ainda não as amaráguas do rio Verde, só na estação distante das nuvens raras.»). Face a prosa deste calibre, José Mário Silva recomenda que se goze bem o livro, pois «a essência desta escrita é a subtileza» e «tão depressa não nos deve chegar outro [livro da mesma autora] às mãos». Subtileza? Sim, ele disse subtileza, embora os exemplos transcritos me levem a crer que a prosa da senhora tenha a subtileza de um tijolo.
3 de setembro de 2004
Face à tragédia de Moscovo de há dois anos, de que resultou a morte de cento e tal pessoas, seria de prever que a mais recente tragédia na Rússia — o sequestro de largas centenas de pessoas por parte de alegados independentistas tchetchenos — terminasse numa tragédia ainda maior. Centena e meia de mortos, até ver, só pode querer dizer que a operação foi um desastre. Seria possível fazer melhor? Provavelmente nunca se saberá. O que me parece é que pior seria difícil.
2 de setembro de 2004
Parece claro que o Governo geriu de forma desastrosa o caso do "barco do aborto". Desastrosa porque acabou por ter a repercussão que não teria caso o governo não o tivesse impedido de entrar em Portugal. Mas isso não significa que o governo não tivesse razões para impedir o barco de entrar em Portugal. Muito mais razões que os senhores que por aí andam a fingir indignação e a mostrar-se «preocupados» com o problema do aborto, como se não soubéssemos que o objectivo deles é aproveitarem a situação para «facturar» mais uns minutos de telejornal — e não o real problema do aborto ou das mulheres que o decidem praticar.
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