11 de agosto de 2005
«Imaginem que uma tarde, ao escurecer, entrei no Serras a comprar um charutinho para depois do jantar. Ainda não tinham acendido as luzes, por espírito de economia, suponho eu. O vendedor, muito solícito, abriu-me meia dúzia de caixas em cima do balcão, e virou-se a atender outro freguês. Naquela penumbra, oh senhor, não sei que vontade me deu de tirar três ou quatro charutos, e no fim pagar um só. Felizmente o patrão acendeu os lampiões (era no tempo do gás) e eu respirei fundo, e fiquei muito contente de continuar a ser um homem honrado. Paguei, vou a dar a volta para sair, e que vejo eu? Um raio dum fedelho que me deita a mão à bengala de castão de prata, que eu tinha pendurado na borda do balcão, e abala a fugir pela rua abaixo! Largo atrás dele, agarra agarra, e se os populares mo não tiram das unhas partia-lhe o pau-ferro de estimação (presente do meu sogro) nos lombos.» Rodrigues Miguéis, É Proibido Apontar