27 de abril de 2007
Se bem me lembro, os media eram acusados de publicar hagiografias do primeiro-ministro pouco antes de estalar o episódio da licenciatura. Agora, que as dúvidas acerca do percurso académico de José Sócrates ocuparam os media durante dias a fio, foram acusados de o tentar liquidar. Se esta história tivesse moral, a moral só poderia ser esta: se os media não investigam suspeitas, deviam; se investigam e descobrem matéria de notícia, é uma campanha. Como se vê, não há meio-termo quando se fala dos media sempre que decidem meter-se com «os políticos», pois passa-se do oito ao oitenta com a mesma facilidade com que se trincha um bife ou se bebe um café. Significa isto que os media são melhores do que se diz? Não duvido nem um bocadinho. Aliás, não duvido que os media são melhores do que a grande maioria dos que os criticam.
25 de abril de 2007
Não me lembro se o lápis era azul, mas recordo-me perfeitamente da porta entreaberta do gabinete do comandante da Guarda junto à qual eu aguardava largos minutos que me devolvessem as «provas». Trabalhava eu nessa altura numa tipografia onde se imprimia A Voz de Trás-os-Montes, onde fui parar numas férias escolares por ter chumbado o ano. Entre outras tarefas, cabia-me levar à censura as «provas» daquele semanário, coisa que eu fazia sem a mais leve noção do que aquilo significava. Recordo o episódio a propósito da data que hoje se comemora, porque me apetece lembrar que havia censura no tempo de Salazar e Caetano que determinava o que os media podiam, ou não, publicar. Dir-me-ão que a censura é coisa que ainda hoje se pratica, e até há quem garanta que cada vez em maior escala. Não sei se é bem assim. Mas, a sê-lo, há uma diferença: ninguém vai preso por falar mal do Governo, e não se fecha um jornal por ser contra a situação. Uma diferença que faz toda a diferença.
24 de abril de 2007
Fez bem a Câmara de Santa Comba em não impedir a romaria que os saudosos de Salazar se preparam para realizar por ocasião do aniversário do nascimento do ditador. É que, goste-se ou não da ideia, o direito de manifestação está consagrado na Constituição, e não há lá nada que diga que esse direito não é para todos. Aliás, um pouco de bom-senso bastaria para não fazer da romaria um caso. Afinal, como bem sublinhou Francisco José Viegas, os manifestantes pretendem, apenas, comprovar que Salazar está mesmo morto.
23 de abril de 2007
Um estudo da Marktest terá concluído que os portugueses estão a ler mais do que dantes. Segundo li, o estudo baseou-se num telefonema para a residência de não sei quantas pessoas, a quem perguntaram se tinham lido algum livro no mês anterior ao telefonema. Longe de mim pôr em causa a seriedade do método, mas devo dizer que tenho algumas dúvidas. Antes de mais, quer-me parecer que o comum dos cidadãos tem tendência a dizer que lê quando inquirido sobre o assunto, mesmo que o inquiridor seja uma empresa de sondagens, pela simples razão de que mesmo quem nunca leu um livro sabe que é de bom tom ler. Depois, suspeito que quando se diz que os portugueses lêem mais livros quer-se dizer que os portugueses compram mais livros, o que não é a mesma coisa. Por último, palpita-me que os dados que agora se exibem pretendem demonstrar que o Plano Nacional de Leitura está a dar bons resultados, coisa de que continuo a ter as mesmíssimas dúvidas que tive na hora em que foi anunciado.
20 de abril de 2007
Escrevi há quase duas semanas que José Sócrates não teria condições para se manter no cargo de primeiro-ministro caso não explicasse de forma cabal o episódio da sua licenciatura na entrevista à RTP. Como isso não sucedeu (as dúvidas que havia não só continuam a existir como têm vindo a adensar-se), repito o que disse: o primeiro-ministro deixou de ter condições para exercer o cargo. É provável que a Direita, como diz Mário Soares, esteja com «com raiva» ao primeiro-ministro, embora não me pareça que seja só a Direita. Mas pretender resumir as peripécias da licenciatura do primeiro-ministro a uma guerra entre Esquerda e Direita, entre Governo e Oposição, só mesmo para confundir. As coisas são o que são, e não há volta a dar-lhe.
18 de abril de 2007
Cada vez me convenço mais de que as últimas movimentações contra a extrema-direita portuguesa estão a produzir efeitos contrários ao que se pretende. Se o episódio de hoje — uma rusga policial que culminou na detenção de dezenas de skinheads e na apreensão de armas de fogo — é o que parece, as autoridades terão tentado minimizar eventuais consequência resultantes do encontro da extrema-direita previsto para o próximo sábado, mas eu duvido que o expediente resulte. Numa coisa tem razão o líder do PNR: as ideias combatem-se com outras ideias. À bordoada, não vamos lá.
Há quem esteja convencido de que só há duas espécies de cronistas: os que são de esquerda, e os que são de direita. Pelos vistos, não ocorre às criaturas que há cronistas que escrevem bem, cronistas perfeitamente dispensáveis, e cronistas que deviam pagar para ser lidos. Mais: não ocorre às criaturas que há cronistas que são, sobretudo, avaliados pela qualidade do que escrevem, independentemente de pensaram assim ou assado. Poderão ter sido ideológicas as razões que estiveram na base da vassourada no DN, mas eu pergunto: tirando Pedro Mexia, que já disse que saiu por outros motivos, alguém tem saudade das prosas (repito: das prosas) dos que foram afastados? E como explicar a contratação de Baptista-Bastos?
16 de abril de 2007
Miguel Sousa Tavares tem razões para estar de pé atrás com a blogosfera, mas daí até dizer que a blogosfera é um «instrumento de calúnia e impunidade sem igual», vai um abismo. Mais: a afirmação é, igualmente, caluniosa. É provável que MST tenha dito o que disse por ter sido escaldado num caso em que o acusaram de plágio, mas pegar-se num exemplo para generalizar não é sério. Mas o que eu acho mesmo é que MST tem, sobre a blogosfera, uma enorme ignorância, embora isso não seja desculpa ou atenuante.
O DN insinua, em editorial, que na origem da guerra ao primeiro-ministro por parte de dois jornais (presume-se que o Público e o Expresso) estão os interesses dos grupos económicos que detêm aqueles títulos.
12 de abril de 2007
Não se percebe por que razão o Supremo Tribunal de Justiça condenou o Público a pagar uma indemnização de 75 mil euros por ter publicado uma notícia que o mesmo tribunal reconheceu como verdadeira. A coisa até pode ter fundamento, mas não há dúvida de que a condenação constitui uma clara violação da liberdade de imprensa — além de constituir um precedente gravíssimo. É bom saber que o Público vai recorrer até onde puder recorrer, e só podemos desejar que seja bem sucedido. É que, se não for, as coisas ficam feias para o jornalismo português. Aliás, é bem provável que este e outros casos recentes tenham já motivado práticas de autocensura, sem dúvida a pior das censuras.
11 de abril de 2007
É verdade que, até ver, não há factos que demonstrem a existência de irregularidades na obtenção da licenciatura de José Sócrates, mas também é verdade que as dúvidas que havia antes da entrevista do primeiro-ministro à RTP continuam a existir. Temo, por isso, que a novela prossiga com a descoberta de novas discrepâncias e contradições, trapalhadas de toda a espécie e meias-verdades. Aliás, a manter-se o que se tem verificado até aqui, quanto mais informação se conhece sobre o caso mais duvidoso ele se torna.
10 de abril de 2007
São grandes as expectativas para a entrevista do primeiro-ministro à RTP, pois espera-se que Sócrates esclareça de vez todas as dúvidas acerca da sua licenciatura. É que, a ser verdade o que se tem dito nos media, o primeiro-ministro vai ter muito que explicar, e as coisas chegaram a um ponto em que dificilmente alguém lhe dará o benefício da dúvida. Caso não consiga explicar o episódio muito bem explicadinho, o primeiro-ministro coloca-se numa posição em que é legítimo tirar-se conclusões pouco abonatórias acerca do seu carácter. Digo mais: se falhar o objectivo, o primeiro-ministro deixa de ter condições para exercer o cargo.
Fez bem o Governo britânico em recuar na decisão que autorizava os marinheiros feitos reféns pelo Irão a vender as suas histórias aos media, apesar de já não ir a tempo de evitar que algumas histórias tenham sido contadas. Afinal, além de obsceno, parece evidente que o expediente abriria espaço para os militares cederem à tentação de se meterem em aventuras por sua conta e risco quando lhes cheirasse a fama ou dinheiro.
6 de abril de 2007
Está em marcha uma campanha destinada a desvalorizar o episódio da licenciatura do primeiro-ministro, alegando-se que o canudo nem aquece, nem arrefece. José Sócrates não é nem mais nem menos competente como primeiro-ministro pelo facto de ter, ou não ter, uma licenciatura, argumenta-se. Acontece que o caso não é esse, por muito jeito que dê que assim fosse. O problema é que, a confirmarem-se os factos divulgados pelos media, o primeiro-ministro não disse toda a verdade sobre o seu currículo académico. Pior: cometeu a imprudência de «retocar» o currículo — deixou de ser «engenheiro» e passou a designar-se «licenciado em Engenharia Civil», entre outros «retoques» — precisamente no momento em que o seu currículo académico estava a ser questionado. Assim sendo, há razões para suspeitar da forma como Sócrates obteve a licenciatura pela Independente, como há razões para o Presidente da República se preocupar com os «danos colaterais» que o caso possa causar, como deu conta o DN, embora Cavaco desminta.
4 de abril de 2007
As declarações às televisões de alguns adeptos da bola no final do Benfica-Porto mereceram alguns comentários na blogosfera. Segundo eles, não havia necessidade de estender o microfone às cavalgaduras. Ora, eu aproveito a onda para ir mais longe. Porque não acabar com as declarações de jogadores e treinadores antes e depois dos jogos? Dir-me-ão que não é possível, que há quem goste daquilo ou contratos a cumprir. Nesse caso, proponho que se crie um prémio para quem for capaz de botar faladura durante 15 segundos sem dizer um lugar-comum, e outro para quem disser algo que já não tenha dito quinhentas vezes.
Não é só o Procurador-Geral da República que tem um problema com os blogues. Vicente Jorge Silva acha que a blogosfera é uma «praga moderna que escapa ao controlo dos poderes públicos».
2 de abril de 2007
Bem pode o primeiro-ministro barafustar contra a forma como os media trataram o caso da licenciatura pela Universidade Independente que ninguém quer saber. Mais: não adianta fazer pressões junto dos media, como nos últimos dias se tornou claro e notório com a denúncia de alguns dos visados. Despromovendo-se de «engenheiro» a «licenciado em Engenharia», José Sócrates acabou a lançar ainda mais lenha para a fogueira, contribuindo para adensar as suspeitas e aguçando a curiosidade dos media. Se algum motivo tem para se queixar é de ter sido imprudente.
A propósito da licenciatura do primeiro-ministro, José Manuel Fernandes finalizou o editorial do Público do último domingo do seguinte modo: «É que, se alguma coisa ficou provada nos últimos dias, é que o telefone toca muitas vezes nas redacções e isso parece pesar em muitas escolhas editoriais. Quem está por dentro da profissão sabe porém que ainda só vemos a ponta do icebergue...» Ora, o que pretenderá JMF insinuar quando diz que «ainda só vemos a ponta do icebergue»? Que sabe mais do que fala? Se sabe, por que não diz? Porque o Público tem telhados de vidro? Não será óbvio que um director de jornal não deve, sobre esta matéria, fazer insinuações? Se tem alguma coisa a dizer, faz favor de o dizer alto e bom som. Caso contrário, é melhor que se cale.
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