30 de abril de 2008
29 de abril de 2008
FRUSTRAÇÃO. Certamente que o inspector Amaral terá fundadas razões para se sentir injustiçado com o afastamento do caso Madeleine e para editar um livro a contar as suas mágoas. Mas que começa a ser estranho que tantos polícias recorram aos jornais e aos livros para aí «resolverem» casos que não conseguem resolver no terreno, lá isso começa. Estranho, e preocupante. É que estes casos parecem indiciar uma onda de frustração nas polícias, o que é mau para elas e pior para nós.
DA IGNORÂNCIA. O Presidente da República diz ter ficado «impressionado» com a ignorância dos jovens acerca do 25 de Abril após conhecer os resultados de um estudo por ele encomendado. Ora, não vejo porquê. Saberão os jovens de hoje quem são os líderes dos principais partidos políticos? Certamente que alguns saberão, mas quer-me parecer que a resposta de uma jovem a um inquérito da RTP, afirmando que Afonso Henriques foi o primeiro presidente eleito após o 25 de Abril, não é um caso isolado. Pior: os jovens nada sabem acerca da Revolução, nem querem saber. E porquê? Na minha modesta opinião, porque os jovens não se revêem nos políticos de um modo geral, e nos políticos portugueses de um modo particular. Vejamos, por exemplo, as juventudes partidárias. Alguém dá por elas fora dos períodos eleitorais? Mais: quando se procura saber o que é feito de tão promissores líderes políticos, constata-se que estão velhos. Velhos nas ideias, velhos nos modos, velhos nos métodos. Se isto não explica tudo, explicará, certamente, muita coisa.
25 de abril de 2008
HOLOCAUSTO. Considero abominável que se diga que as câmaras de gás eram um detalhe na história da II Guerra Mundial, quando os factos (repito: os factos) demonstram o contrário. Mas ainda acho mais abominável que se condene alguém a uma pena de prisão (embora suspensa) por dizer que a ocupação de França pelos nazis «não foi particularmente desumana», como sucedeu a Le Pen, por mais repugnância que o sujeito mereça. Dir-me-ão que é a lei, e as leis são para cumprir. Nesse caso, mudem a lei, pois como está faz mais por quem a transgride do que por quem pretende dignificar.
SANTANA LOPES. O que pretenderá o director do Público dizer quando diz ter «pena que os muitos que pagaram do seu bolso bocados da vida "sempre em festa" que [Santana Lopes] tem levado não contem abertamente o que sabem»? Confesso que não estou a ver. Uma coisa, porém, julgo entender: José Manuel Fernandes lamenta que alguns não digam o que sabem, mas também ele esconde o que sabe.
24 de abril de 2008
DESACORDO ORTOGRÁFICO. «Introduziram-se muitas palavras recentemente no léxico português sem qualquer necessidade de legislação, como "lóbi", "dossiê" ou "robô". Se a ortografia precisar de reforma, esta surgirá naturalmente nos dicionários, livros, gramáticas e jornais. Se não precisámos da força da lei para passar a escrever "dossiê" em vez de dossier, também não precisamos dela para passar a escrever "ótimo" em vez de "óptimo".» Desidério Murcho, Público de 22.04.2008
23 de abril de 2008
NOTÍCIAS. De facto, já estranhava que não se falasse desta «notícia» e do que ela representa. Menezes terá batido com a porta por causa desta e doutras notícias do género? Não sei. O que sei é que está mais que demonstrado que quem abre uma vez a porta da sua privacidade, naturalmente procurando mostrar o que lhe interessa mostrar, acaba por ver exposto o que não lhe convém. São estas as regras do jogo, e os políticos conhecem-nas melhor do que ninguém. Aliás, nem me parecem condenáveis. Um político que faz questão de exibir a sua vida pessoal, ou a parte da vida pessoal que julga poder beneficiá-lo, não tem autoridade moral para condenar notícias sobre o seu foro íntimo que não quer ver na praça pública, ou tome como prejudiciais.
21 de abril de 2008
JARDIM. Há, no Brasil, uma expressão muito usada para caracterizar os detentores de cargos políticos com obra feita mas pouco escrupulosos nos métodos que diz o seguinte: «Rouba, mas faz.» (O resto está aqui.)
18 de abril de 2008
PALPITES. Não sei o que dizer sobre a entrevista de Menezes à SIC-N, mas ficou-me a ideia de que o líder demissionário dos sociais-democratas vai a jogo nas próximas eleições caso se concretize a tal «vaga de fundo» ou os candidatos não lhe agradem. Pode ser que me engane, mas palpita-me que vamos assistir a uma campanha eleitoral desaconselhável a narizes sensíveis.
17 de abril de 2008
MENEZES. É verdade que Menezes era líder do PSD por obra e graça da «vontade dos militantes livremente expressa no tempo devido», como repetiu Santana Lopes, mas a verdade é que também rapidamente se viu que isso era pouco. Ainda cheguei a pensar que a militância dos «históricos» contra o líder agora demissionário poderia transformar-se, nas próximas Legislativas, num resultado aceitável para Menezes, mas nas últimas semanas tornou-se evidente que assim não seria. De facto, este PSD estava — e continua a estar — a caminho de uma hecatombe nunca vista, e tornou-se insustentável dizer que a situação se deveu, apenas, ao clima de guerrilha interna, isentando o líder de culpas. O anúncio de que Menezes vai pedir eleições para o mês que vem, desde já garantindo que não será candidato, só pode ser uma boa notícia para os sociais-democratas, pela simples razão de que, suceda o que suceder, o partido dificilmente ficará pior do que está. A não ser, claro, que os sociais-democratas escolham Menezes caso ele decida recandidatar-se, ou alguém que lhe é próximo.
15 de abril de 2008
ACORDO ORTOGRÁFICO II. Defendi, mal foi ratificado o Acordo Ortográfico, um amplo debate sobre a matéria, por então considerar que não eram conhecidas as razões de quem se opunha e de quem o defendia, muito menos o que se ganhava (ou perdia) com isso. Meio ano e inúmeros debates depois, incluindo o recente Prós e Contras, continuo sem vislumbrar os benefícios de um acordo ortográfico. Falo de benefícios porque é de benefícios que julgo tratar-se, embora por vezes duvide que seja esse o pressuposto. Unificar a escrita da língua portuguesa porquê? Confesso que não estou a ver. É que, por aquilo que se vai vendo, e considerando os argumentos de quem defende o acordo, a ideia parece-me esta: muda-se a grafia, e logo se verá. A tese faz-me lembrar a regionalização, que os seus defensores achavam excelente aquando do referendo — mas nunca apresentaram um exemplo dessa excelência. E eu, quando me cheira a mudar por mudar (ou a mudar para o que se duvida que seja melhor), acho que mais vale estar quieto.
ACORDO ORTOGRÁFICO I. Impressionante a forma como o prof. Carlos Reis passou atestados de ignorância a torto e a direito no Prós e Contras sobre o Acordo Ortográfico. Já os argumentos para defender as suas ideias, impressionaram menos, e certamente que nem sempre da forma que desejaria. É que a substância do que disse ficou muito aquém da soberba com que o disse, e não foram poucas as vezes que baixou o nível ao debate com apartes despropositados e muito pouco elegantes. Valeu a teoria da bomba de Lídia Jorge. Apesar dos avisos de Vasco Graça Moura, que várias vezes lhe disse não entender o que dizia, a respeitável senhora estava que rebentava. Como o programa se aproximava do final e mal tinha aberto a boca, desatou a falar que ninguém a calava. E o que disse ela, deus meu? Bom, há muito que não via tanto disparate junto.
11 de abril de 2008
AGUALUSA. Ignoro se Agostinho Neto é «um poeta medíocre», como disse Agualusa ao Angolense. Que me lembre, nem um verso li do ex-presidente angolano que me permita ter a mais vaga ideia. Mas não me parece acertado pôr a ridículo a obra do bardo. É que, se vamos por aqui, não será difícil encontrar poemas de autores respeitáveis que nunca deviam ter saído do tinteiro. Querem condenar quem condenou Agualusa? Atirem-se aos cavalheiros e ao regime que os sustenta. Seguramente que razões não faltarão.
HIPOCRISIA. Da ONU, espera-se tudo, mas esta de o secretário-geral não ir à cerimónia de abertura dos Olímpicos de Pequim por «razões de agenda» confesso que me surpreendeu. Que um país com interesses na China invente um expediente para se furtar ao embaraço, condena-se mas entende-se. Mas como entender a posição de um organismo que, nesta matéria, se deveria pautar pela clareza de ideias e frontalidade nos métodos?
10 de abril de 2008
RACISMO. Claro que Mário Machado não é racista, como jurou em tribunal. Tem é um ligeiro problema com os pretos, que ninguém é perfeito. Aliás, a modalidade é por demais conhecida, e ainda mais praticada. Por pretos e por brancos, valha a verdade, que a estupidez não é exclusivo de ninguém.
8 de abril de 2008
JORNALISMO DE CAUSAS. Leio que Fernanda Câncio é uma excelente profissional, goste-se ou não do «jornalismo de causas» de que é militante. Ora, eu tenho dúvidas acerca do «jornalismo de causas». Aliás, duvido que se possa chamar jornalismo ao «jornalismo de causas». A causa do jornalismo deve ser a verdade, agrade ela ou não. Excelente profissional é o que faz disto a sua causa, ou põe esta causa acima de todas as outras. Quanto ao resto, e o resto inclui a contestação de que a jornalista foi alvo por alegado favorecimento da televisão pública, não me interessa. Não me interessa porque a contestação tresanda a oportunismo político.
TIBETE. Não tenho uma opinião definitiva acerca do conflito que opõe o Tibete ao regime chinês, mas tenho uma opinião sobre as declarações dos presidentes dos comités olímpicos de Portugal e Brasil quando vêm dizer que não devemos interferir nos «assuntos internos de outros países» (Portugal), e que os atletas não podem ser prejudicados por questões que nada têm a ver com o âmbito desportivo (Brasil): o problema entre os tibetanos e o regime chinês, e dos direitos humanos em geral, é mais importante que os Olímpicos de Pequim. Incidentes como os de ontem tendem, por isso, a aumentar, e não basta aos media chineses não mostrarem o que o regime não quer que se mostre para que tudo fique na mesma. Aliás, um episódio recente demonstrou que o regime chinês não está preparado para lidar com jornalistas ocidentais, o que acabará por ter repercussões nos media caseiros.
4 de abril de 2008
ERC. Não me surpreenderia que a RTP esteja, de facto, a ser tendenciosa em matéria de informação relativa ao Governo e à Oposição, como acusa a ERC. Aliás, quem se surpreenderia? Desde quando a RTP não esteve ao serviço do Governo, deste e doutros governos? Desde quando seria de esperar outro comportamento da televisão do Estado que não seja beneficiar quem nela manda? Desde quando quem lá trabalha não tem que obedecer a quem lhes paga? Depois, como não suspeitar de uma televisão gerida pelo Estado? Como não suspeitar que o Estado é mais bem tratado que a Oposição mesmo que não haja o mais leve indício? Finalmente, a forma como se avalia esta questão levanta dúvidas, a começar pelas metodologias usadas. Claro que se pode — e deve — aferir (e vigiar) o comportamento da televisão pública, e questioná-lo sempre que for caso disso. Só que, de tão vista, duvido que alguém acredite nesta novela. É que qualquer pessoa que siga de perto a questão da RTP e mantenha algum distanciamento, nomeadamente distanciamento dos partidos políticos, dificilmente concluirá o que quer que seja.
OBSCENO. Dêem-lhe as voltas que quiserem e chamem-lhes os nomes que quiserem: a transmissão, pelas TVs, da chegada ao tribunal da criança que se ia encontrar com o pai biológico, e que acabou por não suceder devido ao circo mediático, foi obscena. Que os populares acorram ao local e dificultem o encontro, é lamentável, mas compreende-se. Afinal, os populares não dariam por nada caso não fosse a fanfarra mediática. Mas já o comportamento dos media, não tem perdão ou desculpa.
2 de abril de 2008
DIA DAS MENTIRAS. A mera possibilidade de o FC Porto perder seis pontos e o seu presidente ser suspenso até dois anos, a que se juntam as eventuais descidas de divisão do Boavista e do Leiria e o possível afastamento de dois árbitros de primeiro plano, só pode ser brincadeira de 1 de Abril. Aliás, a divulgação da coisa no Dia das Mentiras tem o seu quê de premonitório. De facto, é muita fruta, mesmo que tudo não passe de foguetório que acabe em nada, como esta notícia é já um indício.
UM DESPERDÍCIO. Raramente se viu um Prós e Contras tão fraquinho como aquele que, segunda-feira, abordou a questão da disciplina nas escolas. Quando se esperaria um debate aceso e substancial, praticamente não houve debate, e de substantivo não me lembro de nada. (Ressalvo que só vi a primeira e segunda partes, pois já não tive paciência para o resto.) A única coisa que se percebeu foi aquilo que já toda a gente sabia: a natureza da violência nas escolas é diferente de antigamente. Tirando isto, não se percebeu se a violência nas escolas aumentou, que mecanismos existem para a combater, e o que se pretende fazer para aumentar a sua eficácia. Pior: tirando escolas avulsas, parece que a utilização dos telemóveis nas salas de aulas é moeda corrente, quando o bom senso mandaria proibir a sua utilização.
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