14 de janeiro de 2009
ALDRABÕES. Lembro-me de Vital Moreira fazer, num Prós e Contras, o seguinte aparte quando esgrimia argumentos com não sei quem a propósito de não sei quê: «Sejamos sérios.» Como segui de perto o que o cavalheiro foi publicando sobre a intervenção militar no Iraque e o conflito israelo-palestiniano, o aparte provocou-me um sorriso. Por razões idênticas à que ontem foi dada à estampa no Público: «Porque [sic] é que as operações militares contra os palestinianos se saldam sempre pela destruição de infra-estruturas básicas, incluindo edifícios escolares e sanitários, pela morte de tantas pessoas sem nenhuma responsabilidade nos combates, por impiedosos desastres humanitários?», pergunta o professor. A pergunta destina-se, evidentemente, a «demonstrar» que Israel não pretende, com a incursão militar em Gaza, liquidar o Hamas mas o povo palestiniano, uma insinuação largamente utilizada por quem não se distingue pela frontalidade. Quem, apesar das aldrabices que diariamente nos chegam de Gaza disfarçadas de «relatos imparciais» e dos opinantes que não se inibem de recorrer à mentira para impor os seus pontos de vista, não sabe que o Hamas usa escolas e bairros como bases de operações militares? Assim sendo, como proceder à destruição dos seus recursos militares sem causar vítimas inocentes? Evidentemente que não é possível, como bem sabe Vital Moreira. Não é possível, nem desejável, que as vítimas inocentes são, para o Hamas, tão necessárias como o pão para a boca, como Vital Moreira também sabe. Mas de factos não lhe convém falar, porque os factos lhe estragam a sua bela teoria. Pois é graças a quem pensa como ele que o conflito israelo-palestiniano está no ponto em que está.