25 de agosto de 2011

COMEDOUROS. «Vai tomar o quê», pergunta o garçon ao cliente que acaba de entrar, enquanto vai roendo um palito e observando o televisor onde passa um jogo de futebol. O cliente balbucia qualquer coisa que não ouço, e também ele se vira para o televisor. Joga o Porto com não sei quem, que os «dragões» haveriam de perder por muitos. Sucedem-se situações aflitivas junto à baliza portista, e o cliente não tarda a perder a paciência — e a compostura. «Caralho», diz ele de braços no ar, «então aquilo não é penalti?» «Se aquilo não é penalti», sentencia, «que caralho é penalti?» O garçon pára de roer o palito, concentra-se na repetição da jogada, concluiu ninguém sabe o quê — e recomeça a roer o palito. «Se aquilo não é penalti», insiste, então ele nada sabe de bola — e ele tem ar de não saber outra coisa. O garçon ouve-o sem pestanejar (anos de prática ensinaram-lhe isso), e depois vai à vida sem nada dizer. Consulto o menu enquanto um sujeito me tenta vender um disco do Quim Barreiros, provavelmente pirata, onde as ventas do dito ocupam toda a capa. Um americano com ar de quem nunca comeu num restaurante decente (não quero dizer que este seja, mas enfim) degusta uma lagosta aqui mesmo ao lado, e pela forma como ataca o crustáceo aguardo a todo o instante que me caia um naco em cima. Gosto de aqui vir uma vez por outra porque a comida é boa e barata, apesar de o ambiente estar mais próximo da estrebaria que do comedouro, o que às vezes tem a sua graça. Quem sabe, aliás, se um dia o defeito não se torna uma característica, que com a proliferação de comedouros que reclamam a diferença como sendo uma mais-valia nunca se sabe.