30 de janeiro de 2015
26 de janeiro de 2015
FIXEM BEM ESTE NOME: CORMAC McCARTHY. Graças a um ficheiro onde registo estas coisas, e que mantenho actualizado há décadas, de Cormac McCarthy concluí, até agora, quatro livros: Meridiano de Sangue, Nas Trevas Exteriores, Filho de Deus, e A Estrada. Leio, actualmente, Sutree, e confirmo o que pensava de McCarthy: é dos escritores mais surpreendentes que conheço. Nas estantes aguardam-me Este país não é para velhos, A Travessia, e Belos Cavalos, a que se juntarão outros mal os encontre. Não sei o que dizem os entusiastas da sua obra (ou detractores, que também haverá), muito menos os especialistas. Mas do que já li, há dois livros espantosos: Meridiano de Sangue, e A Estrada. Sutree será outro.
23 de janeiro de 2015
MEDITAÇÕES DE CASERNA. Tardou, mas chegou. Loureiro dos Santos considera que a culpa do fundamentalismo islâmico em actividade é dos americanos. Segundo ele, foi o Ocidente quem deu origem ao Estado Islâmico, nomeadamente «dois erros estratégicos dos Estados Unidos: a invasão do Iraque; e a insurreição na Síria». Temos, assim, que o 11 de Setembro de 2001, em que o fundamentalismo islâmico (sim, já havia) matou milhares de americanos inocentes, incluindo muçulmanos (e que deu origem à invasão do Iraque e estará na origem dos problemas na Síria), nunca existiu. Claro que Loureiro dos Santos não defende tal coisa, mas lembrar este «pequeno pormenor», arruinar-lhe-ia a sua bela teoria. Mas é caso para dizer: análises destas, até eu faria sobre física quântica.
E QUEM É QUE O IMPEDE? Marinho e Pinto publicou, no Correio da Manhã, um texto comovente. Eis um extracto:
«Eu gostava de poder discutir com um defensor da jihad, em ambiente de plena liberdade para ambos, as motivações políticas ou ideológicas da violência armada contra cidadãos indefesos e inocentes e tentar demonstrar-lhe o erro dessas opções. Em vez de o silenciar com iradas excomunhões, eu gostaria de poder ouvir tudo o que ele tivesse a dizer na defesa da sua doutrina de violência para depois eu o rebater com os meus argumentos de respeito pela dignidade da pessoa humana. No dia em que isso acontecesse, haveríamos, ao menos, de estar de acordo na escolha das armas para esse confronto: as palavras, as ideias e os argumentos em vez das bombas e das metralhadoras.»
Lido isto, não sei se hei-de rir, se hei-de chorar. É que Marinho e Pinto ou anda muito distraído, ou é de uma ingenuidade inacreditável. Desde quando os jihadistas estão interessados em discutir ideias com quem não pensa como eles? E quem não conhece as suas motivações políticas e/ou ideológicas para a violência contra cidadãos indefesos e/ou inocentes? Tirando Marinho e Pinto, não estou a ver quem. Percebo que o tenham feito eurodeputado, provavelmente mais por demérito alheio que por mérito próprio. Afinal, o eleitorado está farto de políticos, digamos, convencionais, e terá visto nele alguém fora do sistema, uma mais-valia. Como se viu, escassas semanas bastaram para ficar demonstrado que foi pior a emenda que o soneto. Espanta-me, por isso, que ainda há quem insista em ver nele o que ele manifestamente não é.
«Eu gostava de poder discutir com um defensor da jihad, em ambiente de plena liberdade para ambos, as motivações políticas ou ideológicas da violência armada contra cidadãos indefesos e inocentes e tentar demonstrar-lhe o erro dessas opções. Em vez de o silenciar com iradas excomunhões, eu gostaria de poder ouvir tudo o que ele tivesse a dizer na defesa da sua doutrina de violência para depois eu o rebater com os meus argumentos de respeito pela dignidade da pessoa humana. No dia em que isso acontecesse, haveríamos, ao menos, de estar de acordo na escolha das armas para esse confronto: as palavras, as ideias e os argumentos em vez das bombas e das metralhadoras.»
Lido isto, não sei se hei-de rir, se hei-de chorar. É que Marinho e Pinto ou anda muito distraído, ou é de uma ingenuidade inacreditável. Desde quando os jihadistas estão interessados em discutir ideias com quem não pensa como eles? E quem não conhece as suas motivações políticas e/ou ideológicas para a violência contra cidadãos indefesos e/ou inocentes? Tirando Marinho e Pinto, não estou a ver quem. Percebo que o tenham feito eurodeputado, provavelmente mais por demérito alheio que por mérito próprio. Afinal, o eleitorado está farto de políticos, digamos, convencionais, e terá visto nele alguém fora do sistema, uma mais-valia. Como se viu, escassas semanas bastaram para ficar demonstrado que foi pior a emenda que o soneto. Espanta-me, por isso, que ainda há quem insista em ver nele o que ele manifestamente não é.
EBOOKS, CAPÍTULO ENÉSINO. Gosto da capa e da contracapa, da badana e do papel, do tamanho e da forma dos caracteres, do cheiro e de os ver nas estantes — mas do que eu gosto mesmo é do que «está lá dentro». É por isso que leio eBooks há anos, é por isso que há anos escrevo sobre as vantagens — e desvantagens — dos eBooks, cuja aquisição me pareceu, desde sempre, valer a pena avaliar sem preconceitos. Não pretendo usar o meu caso para generalizar, mas a verdade é que nunca, como hoje, comprei tantos livros, apesar da oferta de eBooks ser cada vez mais diversificada (e tentadora). E também é verdade que primeiro trato de saber se existe em eBook o que pretendo comprar, que já não tenho espaço nas estantes — e o pouco que vou conquistando a outras arrumações vem sendo ocupado por livros comprados, sobretudo, nos alfarrabistas, onde estou sempre a tropeçar em preciosidades a que não resisto. E agora, se me dão licença, vou-me à História da Literatura Ocidental, de Otto Maria Carpeaux (a ideia é impressionar os leitores), cuja leitura, lá está, dificilmente faria caso não fosse o eBook. Afinal, são quatro respeitosos volumes, para cima de 2800 páginas. Estão a ver-me com um só volume debaixo do braço sempre que tenho oportunidade de o ler por aí? E, já agora, por que não reeditar também em eBook as obras completas do Padre António Vieira? Devido à falta de espaço, provavelmente nunca as verei nas estantes. Se fosse em eBook, num só volume ou em vários, venha ele que eu compro. E quem diz Vieira (30 volumes, agora editados pelo Círculo de Leitores) diz outros clássicos, a começar pelos portugueses (Eça, Camilo, Pessoa, Cardoso Pires) ou lusófonos (Machado, Euclides da Cunha, Gilberto Freyre).
19 de janeiro de 2015
CRISTINA KIRCHNER. Obviamente que não se pode extrair, para já, qualquer ilação, até porque a informação ainda é escassa. Mas foi-me completamente impossível separar esta notícia do que li, há dois anos, no Estado de São Paulo. O texto é comprido, mas vale a pena.
16 de janeiro de 2015
TEMPOS SOMBRIOS. Não ignoro que grandes facínoras cometeram crimes hediondos enquanto se deliciavam com a grande música, mas continuo convencido que a grande música torna o homem melhor. Palestrina, por exemplo, pelos Tallis Scholars. Tavener, pelo Chanticleer. Pärt, pelo Hilliard Ensemble. Lauridsen, pelo Los Angeles Master Chorale. E mais, muitos mais, que nos iluminam nestes dias de trevas, tornando o mundo um lugar mais suportável.
AI ISSO É QUE PODEMOS. O Papa Francisco disse ontem que não se pode provocar ou insultar a fé dos outros. Não posso estar mais em desacordo. Não aprecio provocações gratuitas e insultos de espécie alguma, mas se a questão é podemos, ou não, provocar e insultar, a resposta é, para mim, cristalina: podemos. Mais: mesmo tendo o cuidado de ressalvar que «matar em nome de Deus» é «uma aberração», e de considerar que a liberdade de expressão é um direito fundamental, considero perigoso o discurso do Papa. Há limites à liberdade de expressão que são ultrapassados quando se trata da religião? Discordo outra vez. Por que haveria a religião, qualquer religião, de ficar a salvo de insultos ou provocações e o resto não? E volto a discordar quando diz que a liberdade de expressão deve «exercer-se sem ofender», porque isso levar-nos-ia a que cada um definisse o que é ofensivo e o que não é — logo ao «respeitinho» (não confundir com respeito) e à autocensura. Ficou-lhe bem reconhecer que também a igreja católica pecou generosamente, mas nada disso muda o essencial. E o essencial é que os tribunais existem, também, para julgar insultos e provocações, pelo que quem se sentir ofendido que recorra aos tribunais. O Papa Francisco não defende que alguém que se sinta insultado na sua fé tem o direito de matar, longe disso. Mas se ao dizer o que disse não legitima tal acto, atenua-o bastante — e de algum modo desculpa-o. E se há coisa que não merece contemplações é o terrorismo. Seja em nome de quem for.
PRÉMIOS LITERÁRIOS. Desconheço os detalhes do caso, e os detalhes poderão fazer toda a diferença. Mas num país em que até a prosa analfabeta publicada em forma de livro recebe, pelo menos, um prémio literário, é capaz de ser uma boa notícia quando lemos que o Prémio Agustina Bessa-Luís não será entregue por «falta de qualidade das obras» a concurso. Infelizmente, não acredito que este saudável princípio tenha grande futuro. Mas é pena, porque talvez não houvesse tanta mediocridade se os critérios de atribuição dos prémios literários fossem um pouco mais exigentes.
15 de janeiro de 2015
NEM TUDO FOI MAU. Dois factos positivos resultantes da tragédia francesa: a Europa começou, finalmente, a perceber que o terrorismo islâmico é um problema global, que urge resolver à escala global; e os muçulmanos moderados começaram, finalmente, a demarcar-se, de forma audível, de práticas fundamentalistas, até porque são eles as primeiras vítimas dos danos colaterais.
PARECE QUE DESTA VEZ A CULPA NÃO FOI DOS AMERICANOS. Perdoem-me a ironia, mas não resisto a confessar a minha surpresa por ainda não ter visto, uma semana após a tragédia francesa, uma só alma dizer que a culpa é dos americanos. Tirando Ana Gomes, que disse os disparates a que já nos habituou (começou por dizer que o atentado foi «também o resultado de políticas anti-europeias de austeridade», e anteontem escreveu, a propósito da edição do Charlie Hebdo onde o profeta surge na capa a lamentar o que fizeram em seu nome, que era mais uma ofensa aos muçulmanos), ainda não vi o habitual passa culpas para os americanos. Quanto ao resto, tudo como dantes. Já se vai ouvindo o tradicional «está mal, mas...», quem aponte o dedo a uma publicação que vive de excessos, provocações e insultos — logo estava mesmo a pedi-las. Não faltará quem, nos próximos tempos, tentará, de certa maneira, justificar a carnificina (explicando, contextualizando, desculpabilizando), culpando quem não tem culpa, e fazendo com que os verdadeiros culpados até pareçam as vítimas.
13 de janeiro de 2015
A SRA. LE PEN AGRADECE. Os mandantes que temos cada vez surpreendem mais, para não variar sempre pela negativa. O presidente francês, por exemplo, apressou-se a excluir a sra. Le Pen da manifestação de domingo, considerando tratar-se de uma «marcha republicana», onde ela não teria lugar. Apressou-se, enfim, a oferecer um presente à Frente Nacional, seguramente a força política que mais ganhou com a tragédia francesa e a quem Hollande, com uma decisão estúpida, fortaleceu ainda mais. Mas não se ficou por aqui o inquilino do Eliseu: fez o que pôde para que Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, não fosse à manifestação, a pretexto de que não queria desviar o foco da dita para o conflito israelo-palestiniano, e que Mahmud Abbas, presidente palestiniano, também iria participar — logo iriam caminhar a poucos metros um do outro, logo isso seria um problema. A manifestação de Paris não seria uma excelente ocasião para juntar gente desavinda, mesmo que só para aparecer na fotografia? Hollande achou que não. Pobre país que tem líderes assim. Sem visão, nem estatura.
9 de janeiro de 2015
A DEMOCRACIA DE BRAÇO NO AR. «Não há rigorosamente nada que tenha sido inventado até hoje tão democrático como a comissão de trabalhadores, porque todas as pessoas votam de braço no ar.» Quem foi que disse isto, quem foi? Kim Jong-un, o extraordinário líder da Coreia do Norte? Não, senhores. Foi a dra. Raquel Varela, na Barca do Inferno de 5 de Janeiro.
7 de janeiro de 2015
FREI TOMÁS PREGADO AOS INCRÉUS. Os líderes mundiais apressaram-se, e bem, a condenar o massacre francês, garantindo que nada os fará recuar perante o terrorismo e as suas pretensões. Acontece que a realidade é outra: os atentados que têm vindo a ocorrer desde Setembro de 2001 já mudaram a nossa maneira de estar, e continuarão a mudar. Apesar da retórica, dos discursos inflamados e das boas intenções, o medo cresce cada dia que passa, e a autocensura (que alguém disse ser a pior das censuras) cresce a olhos vistos. Como escreveu Henrique Raposo, que faria ele se fosse um cronista francês «ao alcance da filha da puta da Ak-47»? Definitivamente que o Ocidente está a perder sucessivas batalhas. Resta saber se perderá a guerra.
ISTO NÃO VAI LÁ COM MEIAS TINTAS. Em Dresden, milhares de pessoas manifestaram-se recentemente por uma «Alemanha para os alemães» e contra o que consideram uma crescente islamização do país, enquanto no mesmo país outros milhares se manifestaram logo a seguir contra o «nacionalismo», considerando que os refugiados são «bem-vindos», e que o racismo e a xenofobia não têm lugar numa sociedade onde todos cabem e onde todos têm o direito de ser tratados por igual. Sondagens às presidenciais francesas dão a vitória a Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, partido de extrema-direita que pretende, entre outras medidas, travar o que designa por crescente «islamização da França». Hoje mesmo aconteceu o que aconteceu. Parece-me, por isso, altura de voltar a insistir nas perguntas que faço há anos, que nunca vi cabalmente respondidas. Por que não aproveita o islamismo moderado ocasiões como esta para sair à rua a condenar o radicalismo? Por que se limitam os seus líderes a declarações avulsas sempre que há uma tragédia e só quando não conseguem fugir aos microfones? Por que se limitam a queixar-se do modo como são olhados na rua, da crescente estigmatização de que dizem, e eu acredito, estar a ser vítimas? Não percebem que a passividade, aliada a actos como o de hoje, se viram contra eles? Que só reforçam o que designam, nem sempre acertadamente, por islamofobia? Reconheço que é pouco simpático, mas nestas alturas lembro-me sempre da célebre frase inicialmente dita, salvo erro, por Oriana Fallaci, que se mantém actualíssima: se é verdade que a generalidade dos muçulmanos não é terrorista, é um facto que os terroristas são, quase sempre, muçulmanos. Convinha, por isso, tirar isto a limpo, separar as águas. Até lá, como vamos distinguir um «muçulmano bom» de um «muçulmano mau»?
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