29 de junho de 2017
ESCÂNDALO NA PARÓQUIA. A ventosidade intestinal que Salvador Sobral sugeriu durante o concerto para as vítimas de Pedrógão Grande escandalizou a pátria do Minho ao Algarve, da Calheta a Caracas, talvez mesmo os Amigos de Olivença. Curiosamente, a pátria não costuma escandalizar-se quando vê os jogadores da «selecção de todos nós» dizer, com todas as letras, palavrões de toda a espécie, como ainda ontem se viu frente ao Chile. Convenhamos que o comentário de Salvador, uma «inconveniência» de que o próprio diz não se orgulhar (e que, para mal dos seus pecados, terá praticado outras vezes), não foi muito elegante. Mas a dor de corno que logo veio ao de cima, a pretexto da moral e dos bons costumes, também não cheirou lá muito bem. Sim, a vitória de Salvador no festival das cantigas não agradou a todos, especialmente a uns quantos profissionais do ramo, que agora aproveitaram a ocasião para o dizer sem o dizer. Como não aprecio moralismos hipócritas, sobretudo de quem nada tem para mostrar, quase lamento que Salvador não tenha ido mais longe.
14 de junho de 2017
ISTO NÃO É SOBRE TRUMP. Tirando quem se espera fazê-lo, geralmente pago para isso, ainda não vi quem defendesse o Presidente Trump. Com argumentos dignos desse nome, evidentemente. Atacar os seus adversários, por vezes de forma rasteira e mentirosa, não basta para o defender. Há que dizer que Trump é bom nisto, faz bem aquilo — e fundamentar o que se diz. Confrange, de facto, o deserto argumentativo, que só pode significar que Trump é pior do que se pinta. A maioria dos trumpistas foi desertando para mais amenas paragens. Uns por oportunismo, outros porque se sentirão embaraçados pelo que vêem, outros ainda porque não aguentam tanta mentira (nove por dia, em média, segundo o Washington Post). Depois há os que assobiam para o lado, os que entraram em negação, quem o defende porque sim e outros casos perdidos. Rasgar o acordo sobre o clima, com base em pressupostos que não se percebem, valeu-lhe o desagrado universal. Até a filha e o genro, cuja opinião Trump terá em conta, foram notoriamente contra, deixando o Presidente cada vez mais à mercê dos lunáticos que o rodeiam, das suas próprias obsessões e fantasmas. Agora estamos nas gravações das conversas entre o Presidente e o ex-director do FBI, que Trump ameaça ter mas que ninguém sabe se tem, e se tem que novidade trarão — uma comédia do pior se não estivesse em causa intimidar quem decidiu enfrentá-lo. Amanhã outra coisa virá, que nesse aspecto o Presidente nunca desilude: está sempre pronto a surpreender-nos, cada vez pelos piores motivos. Resta saber até quando o partido que o suporta estará disposto a ignorar as bandeiras vermelhas que todos os dias se levantam, a fazer o pino para o defender, a suicidar-se com ele.
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