19 de setembro de 2018
O HOMEM SEM QUALIDADES. Que tenham votado Trump por estarem fartos do chamado sistema, por acharem que o sujeito era a pessoa certa ou porque merecia o benefício da dúvida, não custa entender, mesmo depois dos sinais em contrário desde o início. Mas agora, 17 meses passados, dá que pensar ver quem o defenda com o mesmo fervor, apesar de tudo o que já se passou, do que diariamente sucede, e do futuro que se adivinha. Donald Trump mente descarada e compulsivamente mais de sete vezes por dia (números do Washington Post). Rodeou-se de medíocres e oportunistas, e de um ou outro tido como sério que rapidamente perdeu a coluna vertebral. Insulta diariamente membros do seu próprio gabinete, instituições como o Departamento de Justiça e agências de segurança, e de um modo geral todos quantos não pensam como ele. Instiga o ódio entre parceiros e adversários. Zomba em público de deficientes. Embora não se assuma como tal, é claramente racista, talvez mesmo supremacista, e as mulheres ou são objectos de prazer ao alcance da mão, ou não contam. É nitidamente um ressentido, e nunca perde uma oportunidade de se vingar. Admira ditadores e outros tiranos, a quem inveja os métodos e a obediência (elogiou o ditador norte-coreano por não permitir que alguém não pense como ele). É um egomaníaco como nunca se viu, um mitómano capaz de suplantar o mais inverosímil personagem de ficção, um paranóico obstinado. Desconfia de tudo e de todos. Da comunicação social (os que lhe são hostis são «inimigos da América»), que ataca constantemente — porque assim, disse ele a uma jornalista da Fox, desacredita todos os media, pelo que quando algum publicar notícias desagradáveis acerca da sua pessoa, ninguém acredita. Da comida que lhe servem, porque tem um medo patológico de ser envenenado. É um ignorante que faz gala de o ser, um desavergonhado que só encostado à parede aceitou dizer algumas palavras simpáticas sobre o senador John McCain, a quem nunca chegará aos calcanhares. É um incompetente com provas dadas, o mais rematado imbecil, um sujeito sem escrúpulos. É, em resumo, uma criatura desprezível. Assim sendo, que qualidades terá que continuam a levar os seus apoiantes a ignorar/desvalorizar/minimizar todas estas misérias? Não me venham com a Hillary assim e Obama assado, que as alegadas trapaças de uma e as supostas patranhas de outro não explicam coisa nenhuma — e só demonstram a invariável pobreza de argumentos. Nem por que motivos foi eleito, que isso já foi mais que explicado. Digam-me, por favor, que o homem tem uma qualidadezinha, uma só para amostra — ou então que nada do que aqui enunciei tem importância. É que eu recuso-me a acreditar que os «trumpistas» não tenham vergonha e pelo menos um argumento digno desse nome.