26 de junho de 2019

O PADEIRO DE PORTALEGRE. O discurso de João Miguel Tavares (JMT) no Dia de Portugal causou embaraço à direita e à esquerda — mas, sobretudo, à esquerda. Li o texto e confesso que não percebo porquê. Antes de mais porque, sendo JMT assumidamente de direita, não escandalizaria se tivesse sido proferido por alguém de esquerda, e só não foi aplaudido pela generalidade da direita porque JMT, sendo de direita, vive à margem dos partidos, e nem a direita nem a esquerda partidárias apreciam quem pensa pela sua própria cabeça. Depois há coisas que não entendo. Inês Pedrosa, cuja ultima vez que ouvi falar dela foi a propósito de um episódio pouco edificante que metia estrelas que um determinado crítico literário atribuiu — ou ia atribuir — a um dos seus livros mas não atribuiu (ou atribuiu por pressão não sei de quem), começou por se mostrar escandalizada com a escolha de JMT para presidir à comissão organizadora das comemorações do Dia de Portugal e se agarrar à circunstância de JMT se ter assumido como um homem comum, que ela interpretou no pior sentido do termo (o homem comum podia muito bem ser, segundo ela, o «padeiro de Portalegre»). Prosseguiu acusando-o de populista, de fazer um discurso antidemocrático, de ofender o país, e de mais umas coisas de que já não me lembro. Infelizmente, a escritora não fundamentou o que disse. Mas a sobranceria com que se aliviou deixou antever que não há nada que possa acrescentar. Está, portanto, dispensada de mais explicações, até porque suspeito que a emenda seria pior que o soneto.